PF diz não ter encontrado indícios de estupro e morte de indígena

Representante da comunidade denunciou abuso sexual e assassinato de menina de 12 anos e que uma criança de 3 anos foi jogada ao rio pelos criminosos

Agentes da PF e servidores estiveram na Terra Yanomami
Foto: Condisi-YY/Divulgação
Agentes da PF e servidores estiveram na Terra Yanomami

A Polícia Federal (PF) informou nesta quinta-feira não ter encontrado indícios de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento na Terra Indígena Yanomami. Os agentes seguiram na manhã desta quarta-feira para a comunidade localizada na região de Waikás, para investigar a morte de uma adolescente de 12 anos e o desaparecimento de uma criança de 3 anos, no Rio Uraricoera, após ataque e tentativa de sequestro de indígenas por garimpeiros.

"Após extensas diligências e levantamentos de informações com indígenas da comunidade, não foram encontrados indícios da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento", informou a PF, em nota.

O comunicado acrescenta que as equipes ainda estão em diligência em busca de maiores esclarecimentos. A investigação é conduzida pela PF e conta com apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério Público Federal (MPF), do Exército e da Força Aérea Brasileira.

Denúncia

De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, parentes da menina relataram que ela foi estuprada e violentada.

Hekurari afirma que a viagem ficou acertada em reunião na Superintendência da PF, em Boa Vista, nesta terça-feira. Os agentes serão transportados em um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) com capacidade para até 10 pessoas e deve levar 1h40 para chegar ao local. Eles deixaram Boa Vista por volta das 8h.

— Não foi possível ir nesta terça-feira por conta do mau tempo e as chuvas fortes que caem na região. Logo nas primeiras horas da manhã devemos seguir em viagem — afirma Hekurari, que também confirmou a presença de servidores da Funai na reunião.

Hekurari afirmou ao GLOBO que além da morte da menina violentada, uma outra criança, de três anos, está desaparecida após ter sido jogada de um barco com sua mãe, durante tentativa de sequestro, na tarde de segunda-feira. A mulher de 28 anos sobreviveu, mas o filho teria se afogado.

— Os garimpeiros invadiram a comunidade levaram uma mulher e uma adolescente, de 12 anos de idade. Os garimpeiros violentaram e ocasionou o óbito. O corpo da adolescente ainda está na comunidade e vamos fazer um voo agora para trazê-la ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer os exames e constatar se ela foi abusada. A mulher tinha 28 anos e estava com uma criança de colo, que teria morrido afogada no rio — afirmou Hekurari.

O procurador do Ministério Público Federal de Roraima (MPF-RR), Alisson Marugal, disse que está à espera de novas informações para agir no caso.

— Vamos aguardar o resultado da diligência lá na região. Mas certamente o MPF vai se inteirar dos fatos para tomar providências, se tivermos todas essas confirmações. A apuração cabe à Polícia Federal e nós, como Ministério Público, vamos dar total apoio — afirmou.

Réfens de esquema criminoso

Com pouca oferta de caça e pesca em razão da destruição do meio ambiente e debilitados por doenças que os impedem de buscar o próprio alimento, jovens indígenas estão sendo forçados a trabalharem para os garimpeiros. Em um esquema criminoso, que envolve aliciamento, assédio de menores, violência e abuso sexual contra mulheres e crianças, algumas são embriagadas por bebidas alcoólicas e estupradas até a morte.

O Ministério Público Federal de Roraima e a Polícia Federal já receberam denúncias de crimes parecidos em outras regiões, mas casos específicos de estupro e morte por abuso em terras indígenas até então não foram investigados no âmbito federal.

Ainda de acordo com o presidente Condisi-YY, os garimpeiros não querem mais confusão com os indígenas e adotaram o aliciamento de jovens e adolescentes.

— Estão levando muito dinheiro para as aldeias. Eles cooptam jovens entre 10 anos e 15 anos. As mães choram, já estão se acostumando com um mundo que não é da floresta, que foi invadida — diz Hekurari.

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