Advogado acusa segurança do STF de racismo após caso em estacionamento

Nauê Pinheiro estava dirigindo veículo quando funcionário do órgão presumiu que ele era motorista das demais pessoas que estavam no carro

Advogado afirma ter sofrido racismo d segurança no estacionamento do STF
Foto: Flickr
Advogado afirma ter sofrido racismo d segurança no estacionamento do STF


O advogado Nauê Pinheiro de Azevedo, assessor jurídico da ONG Observatório do Clima, se dirigia a uma reunião com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília sobre pautas ambientais, nesta terça-feira (29), quando acabou tendo que lidar com uma situação embaraçosa no estacionamento do órgão. Ao parar o carro, onde estava com mais três colegas no carona, que eram brancos, ele, que é negro, foi abordado pelo segurança pátio, que presumiu, de forma preconceituosa, que ele estava prestando serviço como motorista aos demais.

“O segurança não saiu da guarita. Eu estava estacionando e ele ficou me chamando e mostrando que estava tirando o cone. Eu perguntei ‘ué, é para eu ir para a garagem?’, e aí ele respondeu ‘não, é para você deixar o pessoal lá e ir embora’”narra Nauê. “Aí uma das pessoas que estava comigo no carro falou: ‘Mas nós estamos juntos’. Ele repetiu o movimento.”

O advogado conta que, após o episódio de racismo, todos ficaram desconsertados, sem reação.


“Eu parei o carro todo torto, de tão perturbado que eu fiquei. Daí que a gente se tocou o que tinha acontecido e ficou todo mundo tão estarrecido que ninguém disse um ‘A’. Eu era o único negro no carro, estávamos em quatro pessoas. Só aí o segurança pareceu ter percebido que eu não era motorista, eu era advogado”, relata.

'Racismo estrutural'
Nauê, no entanto, diz não desejar que o rapaz que cometeu o ato racista seja punido "nem de longe".

“Esse tipo de coisa a gente trata com educação. Na reincidência, a gente vê o que faz. Punir por punir vai gerar no mínimo duas vítimas, é uma questão social”, diz. “Não há problema ser motorista, o problema é porque eu, negro, sou confundido com motorista e não visto como advogado, mas um cara branco veste um jaleco e fica semanas no hospital se fingindo de médico sem ser incomodado? É o questionamento que eu faço.”

O Observatório do Clima, por sua vez, publicou uma nota de repúdio após o episódio.

"Para além das necessárias responsabilizações institucionais, o episódio expõe quão estrutural é o racismo no Brasil, e quão racistas são as lentes pelas quais a sociedade de minoria branca enxerga não apenas negros, mas também mulheres e indígenas", diz a instituição. "Nauê Pinheiro é um advogado brilhante, escolhido pelo OC para representar a rede no julgamento histórico de sete ações ambientais nesta quarta-feira pelo STF. Tê-lo na nossa equipe é uma honra, e o papel que ele desempenhará no julgamento de hoje nos enche de orgulho".

O STF foi questionado sobre o ocorrido, mas até a publicação desta reportagem, ainda não havia obtido resposta.

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