Major que matou marido diz que ele recusava tratamentos psiquiátricos
No depoimento, a policial contou que, apesar dos sintomas, o ex-cabo "recusava-se a ir a qualquer tipo de médico"
A major Fabiana Pereira Ribeiro, de 42 anos, afirmou à polícia, no depoimento em que confessou o homicídio do marido, Luiz Alberto Muniz do Carmo, de 48, que o companheiro "possuía claramente problemas psiquiátricos, porém não diagnosticados". No depoimento, a policial contou que, apesar dos sintomas, que incluiam um "comportamento violento e agressivo" com a mulher e os dois filhos, o ex-cabo do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) "recusava-se a ir a qualquer tipo de médico" e "também não aceitava nenhum apoio psicológico".
A PM foi ouvida na 37ª DP (Ilha do Governador), onde se apresentou espontaneamente em 4 de março, quatro dias depois da morte. Foi neste momento em que ela retificou o relato inicial, no qual alegou que o marido teria cometido suicídio. O corpo de Luiz Alberto foi encontrado na cama do casal, em uma residência na Rua Gregório de Matos Morais, no Jardim Guanabara, sub-bairro da Ilha do Governador.
Segundo Fabiana, o ex-cabo vinha "apresentando sempre problemas de humor, alternando em poucos momentos de euforia e na maior parte do tempo mau humor e extrema irritação". Sem o acompanhamento especializado, ainda de acordo com o termo de declaração da major, ele "utilizava medicações tarja preta por conta própria, comprando grande quantidade de medicação em fontes que a declarante não conhece". Na cômoda ao lado da cama na qual Luiz Alberto foi morto, foi encontrado um frasco de rivotril, um ansiolítico empregado no tratamento de diversos tipos de transtorno, mas que só pode ser usado com orientação profissional.
A policial contou que o marido também usava "esteróides anabolizantes", o que "aumentou ainda mais seu nível de agressividade diária com todos". Fabiana revelou ainda que Luiz Alberto "também recusava qualquer vida social", inclusive atividades relacionadas aos dois filhos do casal, uma menina de 3 anos e um menino de 8, que sofre de déficit de atenção.
O relato de Fabiana é marcado por uma série de supostos ataques protagonizados pelo marido. Ela conta que Luiz Alberto a ameaçava constantemente, "de todas as formas", e que chegou a dizer que "mataria a declarante e seus pais, caso ela procedesse criminalmente contra ele", tal qual também consta no termo assinado pela PM. "Há cerca de cinco meses, as agressões passaram a ser diárias, tanto contra a declarante, como contra seus filhos, na forma de xingamentos, ameaças e espancamentos", enumerou a major ao ser ouvida na delegacia.
De acordo com Fabiana, o principal motivo alegado para as agressões era um ciúme excessivo e o sentimento de posse por parte de Luiz Alberto, que "vistoriava diariamente o telefone celular" dela e também checava todos os dias as mensagens no e-mail da companheira. Em um dos últimos episódios de violência, o ex-cabo teria desferido muitos socos no rosto da mulher. "Neste dia, ele chegou a levá-la para a parte externa da residência dizendo que iria matá-la", diz o depoimento.
Em outra data, no início de fevereiro, o casal saiu para comer fora em um restaurante na Barra da Tijuca, "o que era raro demais, já que Luiz Alberto jamais aceitava sair de casa". No local, ele teria iniciado uma discussão, alegando que Fabiana possuiria um amante. A major conta que tentou conciliar a situação, fazendo com que os dois fossem embora.
Dentro do carro, segundo ela, "Luiz Alberto iniciou uma sessão de espancamento", com coronhadas na cabeça e socos no rosto da esposa, que ficou ferida nos olhos. "Em seguida, (ele) disse à declarante que iriam para o Morro do Vidigal e ele a jogaria lá de cima", e que "a jogaria nas pedras e ninguém a encontraria tão cedo". O ex-cabo teria, então, ameaçado matar também a família e os filhos de Fabiana caso ela "comentasse o ocorrido com alguém". Ela, de fato, não contou, e "ficou uma semana sem ir trabalhar, com muita vergonha".
A policial também detalhou violências das quais os dois filhos do casal teriam sido alvo pelas mãos do pai. Fabiana contou que os dois eram chamados pelo ex-cabo de "retardadinho", uma referência à condição clínica do menino, e "piranhinha". Além das ofensas, o garoto, segundo a mãe, era agredido constantemente, "na forma de tapas, socos e chineladas". Recentemente, Luiz Alberto também teria passado a dar tapas regularmente na caçula.
Ainda de acordo com o depoimento, na noite em que o ex-cabo morreu, ele voltou a acusar a esposa de ter um amante, chamando-a de "puta mentirosa". Em seguida, Luiz Alberto teria afirmado que colocaria Fabiana para fora de casa no dia seguinte, "com a roupa do corpo", e que "a destruiria", sem nunca mais "ver os filhos de novo". Por fim, falou que queria ver a mulher morta. Neste momento do relato, a major conta que o companheiro "sempre dormia com uma pistola" ao lado da cama, junto de quatro carregadores reservas.
Ela afirma que decidiu, então, pegar a própria arma no closet. Ela "dirigiu-se à cama e disparou contra a cabeça de Luiz Alberto", que estava deitado "a poucos centímetros de sua arma, ao alcance de sua mão". Em seguida, Fabiana "disparou a arma novamente nas mãos" do marido, "em direção à janela da casa". "A declarante esclarece ainda que entendeu que Luiz Alberto iria matá-la naquela noite, em virtude de ter falado novamente que queria vê-la morta", prossegue o relato.