'Morreu porque não conseguiu respirar', diz mãe de jovem soterrada
Gizelia cavou na lama com as mãos em busca de Duda. Além da estudante, morreram a comadre e a afilhada de 2 anos
Após horas à procura da filha, Maria Eduarda , a vendedora Gizelia de Oliveira Carminate, de 36, teve a confirmação que não queria. A jovem de 17 anos que estava desaparecida desde a tragédia que atingiu o Morro da Oficina, em Petrópolis, não sobreviveu.
Vinda do Rio há quatro dias, a estudante do ensino médio Maria Eduarda Carminate de Carvalho estava na casa da sua comadre para visitar a afilhada de dois anos. Na noite desta terça-feira, todas elas, que estavam abraçadas, morreram soterradas.
Maria Eduarda já estava começando a alcançar a fama nas redes sociais. Atualmente, ela tinha quase 17 mil seguidores. O sonho? Ser modelo. E ele estava começando a ser realizado. Nos últimos meses ela chegou a ser chamada para fazer fotos para campanhas publicitárias de sua cidade, Juiz de Fora. Filha mais velha de dois irmãos, a jovem era apaixonada por Petrópolis, onde tinha um “crush”.
— A minha filha tinha acabado de chegar no Rio. Tinha quatro dias aqui. Veio para ver a afilhada e acabou morrendo desse jeito — conta Gizelia, que está desolada. — Vim correndo de Juiz de Fora para salvar a minha filha. Fiz de tudo, tudo mesmo. As casas estão todas destruídas. Isso aqui acabou. Elas morreram porque não conseguiram respirar. Vão embora daqui, por favor — desabafa.
A luta de Gizelia começou logo cedo. Nos primeiros raios de sol, a mulher partiu rua acima para tentar encontrar a filha. No braço direito, Gizelia levava o nome por extenso da jovem, mas gritava a todo instante pelo seu apelido: Duda.
A cada buraco ou fresta entre os escombros, ela gritava por Duda e torcia para um sinal dela. Antes mesmo das 6h e da chegada dos bombeiros nos locais mais críticos, não passou por sua cabeça que subir sob lajes e escombros de outras casas poderia lhe trazer algum risco. Seu unico objetivo era claro: Duda.
Por Duda, Gizelia cavou com pás e com as próprias mãos. A esperança que carregava consigo, mesmo que mínima, após ver os estragos causados pela chuva, é o que lhe deu forças para gritar mais uma vez pela filha.
As horas foram passando e cada vez mais Gizelia ficou em um estado de choque. Mesmo parada observando de longe o trabalho dos bombeiros, ela não deixava de acreditar. Com outros pais que procuravam seus filhos, ela entrou em um modo "automático ", realizava as ações sem processar internamente as emoções.