Cratera na Tietê: relatório já havia apontado fragilidade da área
Considerando as fragilidades no entorno do rio, os técnicos, quando deram um parecer favorável à obra, mostraram que ela precisa de monitoramento constante
A área em que aconteceu a abertura de uma cratera na Marginal do Tietê, perto da Ponte do Piqueri, é considerada a de maior propensão para eventos do tipo entre as contempladas nas obras da Linha 6-Laranja.
O trecho das Estações Água Branca e Santa Marina, até pouco antes da Estação Freguesia do Ó, fica na planície aluvial do Rio Tietê. Dessa forma, toda essa extensão está mais sujeita a "problemas de recalque" e tem "fragilidade alta", de acordo com o relatório de impacto ambiental.
Assinado pela Walm Engenharia e Tecnologia Ambiental e encomendado pelo Metrô para a posterior licença ambiental, o levantamento data de 2012, quando a expectativa era que a linha passasse a operar no início de 2017, antes da série de atrasos e mudança da concessionária responsável.
Considerando as fragilidades no entorno do rio (o chamado Aquífero Quaternário) os técnicos, ao emitir um parecer favorável à obra, mostram que ela vai necessitar de monitoramento constante.
De acordo com a análise geomorfológica, o entorno do rio é considerado de "fragilidade muito alta", enquanto o nível é "alto" no restante do trecho norte e "médio" nas demais estações.
Sobre a região do Rio Tietê, o texto do documento aponta que "são áreas propensas a recalques (rebaixamento/afundamento), que podem danificar pavimentos, redes de infraestrutura ou mesmo edificações, além de serem mais sujeitas a inundações".
O entorno da Marginal do Tietê é descrito como de solo mole, composto de sedimentos carregados pelos cursos d'água (os chamados "solos aluviais"). Ele é basicamente formado por argila siltosa cinza e amarela e, na parte mais próxima da superfície, de argila orgânica, areia siltosa e aterro (provenientes das mudanças urbanas na região ao longo de décadas, como a retificação do rio).
"(Os pontos próximos da Marginal) são os que apresentam a menor capacidade de suporte, afetados pelas oscilações do lençol freático e, portanto, mais suscetíveis a problemas de recalque" , continua o relatório sobre a obra.
O "nível de fragilidade é muito alto", diz o documento, que cita também: "possibilidades de inundações periódicas, lençol freático pouco profundo e sedimentos inconsolidados sujeitos a acomodações constantes". Por outro lado, a região tem baixa suscetibilidade à erosão, diferentemente do trecho da Freguesia do Ó até a Brasilândia, de classificação "alta".
Cursos d'água
O relatório pontua, ainda, que os cursos d'água ao longo da linha tiveram as características naturais "bastante alteradas", com retificações e canalizações. Além disso, eles se tornaram receptores "dos mais diversos tipos de detritos/resíduos urbanos, que, visivelmente, alteram a qualidade das águas e provocam o assoreamento dos mesmos".
Segundo o documento, as obras subterrâneas e as escavações necessárias para a Linha 6 vão precisar de "monitoramento sistemático de recalques, passíveis de ocorrer por diversas ações", como escavações em geral; (rebaixamento de lençol freático; desestabilização indireta do subsolo, por uso de explosivos ou vibrações".
Outros eventuais recalques podem ser feitos tanto na obra quanto nas regiões mais próximas, em edificações, no sistema viário etc. Com entendimento semelhante, o parecer técnico da Cetesb de 2013 também ressalta a maior fragilidade das imediações do rio, com solos suscetíveis à inundação.