Caso Moïse: Justiça mantém prisão dos 3 homens que mataram congolês
Fábio Pirineus da Silva, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Brendon Alexander Luz da Silva passaram por audiência de custódia
A Justiça manteve as prisões temporárias dos três suspeitos de terem espancado até a morte o congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, na noite do último dia 24, no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio . Fábio Pirineus da Silva, o Belo, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, e Brendon Alexander Luz da Silva, conhecido como Tota, passaram por audiências de custódia, no início desta tarde, na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte da cidade. Eles foram flagrados por uma câmera de segurança agredido o estrangeiro com socos, chutes e até pedaços de pau.
As prisões de Fábio, Aleson e Brendon foram decretadas no plantão judiciário, na madrugada de ontem, pela juíza Isabel Teresa Pinto Coelho Diniz, após pedido feito pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). No parecer, a promotora Bianca Chagas ressaltou a crueldade do crime: "Frise-se, ainda, que as imagens comprovam toda a ação delituosa em seu mais alto grau de crueldade, perversidade e desprezo pela vida – o bem jurídico mais importante de todo ordenamento", escreveu ela.
O trio de agressores foi identificado pelo proprietário do Tropicalia através de apelidos. O proprietário, que não estava no local no momento das agressões, cedeu as imagens de câmeras de segurança para a polícia e não teve participação no crime, de acordo com os investigadores.
Na DHC, Belo e Totta disseram trabalharem em barracas na areia da praia e Dezenove contou ser funcionário do quiosque vizinho. Os três alegam que teriam agredido Moïse, que, segundo eles, já estaria embriagado, após o congolês tentar pegar cervejas da geladeira do Tropicália. Eles também narraram que o congolês que tinha um histórico de confusões com outros funcionários e banhistas no local.
Durante o depoimento, Dezenove declarou trabalhar com Moïse no quiosque Biruta. No depoimento, ele, que disse ser garçom e cozinheiro no estabelecimento, e aparece no vídeo da morte com uma camisa do Flamengo, afirmou que o congolês, que antes trabalhava somente para o Tropicália, passou a prestar serviço também para o Biruta três semanas antes do crime.
Para justificar sua participação no espancamento fatal, ele disse que bateu em Moïse com socos e depois com um taco de beisebol para "extravasar a raiva que estava sentindo" do congolês , pois o estava "perturbando havia alguns dias". Após as agressões, ele contou ter ligado para o Samu, e permanecido no local, enquanto os demais autores fugiram.
Já Tota, que aparece nas imagens imobilizando Moïse com um mata-leão e depois amarrando os pés e as mãos da vítima, disse conhecer o congolês de vista, pois trabalhava em uma barraca na areia, que seria de mesma propriedade dos donos do Biruta. Praticante de jiu-jítsu, ele se envolveu na confusão, pois viu que Moïse tentava agredir Jaílton e saiu em defesa dele, usando suas técnicas de luta para imobilizar o congolês.
Ele afirmou que ficou segurando o estrangeiro por cerca de oito minutos e que pedia para que Belo e Dezenove não o agredissem. Ele disse ainda ter tomado a decisão de amarrá-lo para que Moïse não corresse atrás dele. Ao perceber que o congolês não respirava, Tota disse ter tentado reanimá-lo. Acreditando que uma equipe de socorro conseguiria ajudar Moïse, ele decidiu sair do local, só tomando conhecimento da morte no dia seguinte.
Por último, Belo, seguiu a mesma linha dos demais autores, dizendo que Moïse era usuário de drogas e consumia muitas bebidas alcoólicas. Fábio disse estar em uma Kombi quando viu a confusão no quiosque Tropicália e pegou um taco de beisebol e foi até Moïse, iniciando as agressões. Em seguida, ele alegou ter dito para os demais pararem as agressões e foi embora do local.
De acordo com o laudo de necropsia do Instituto Médico (IML), Moïse sofreu traumatismo do tórax, com contusão pulmonar, provocado por ação contundente. Ele teria agonizado por dez minutos antes de morrer.
"O laudo e o vídeo demonstram que se trata de uma vítima fatal de espancamento, com vários hematomas pelo corpo, e com uma repercussão grave das agressões no pulmão, o que causou uma hemorragia. Nesses casos, a aspiração do sangue leva a dificuldade respiratória, como em uma asfixia, e a morte não se dá de maneira imediata. Estima-se em dez minutos o tempo de sofrimento respiratório que o fez agonizar antes de morrer", explicou o perito Nelson Massini, professor titular de Medicina Legal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).