Congolês não trabalhava mais no quiosque, diz proprietário do local
Em depoimento, dono do estabelecimento afirmou que congolês fazia diárias no Biruta, bar vizinho
Em depoimento prestado na Delegacia de Homicídios da Capital, o proprietário do quiosque Tropicália afirmou que Moïse Kabagambe trabalhou até cinco dias antes do crime no seu estabelecimento, sendo desligado no dia 19 de janeiro, quando foi desligado. A partir de então, ele teria passado a trabalhar no quiosque vizinho, de nome Biruta. Nesta madrugada, a Justiça decretou a prisão dos três agressores: dois deles trabalhavam em barracas na areia, o outro seria colega de trabalho de Moïse, no Biruta.
Moïse entrou no Brasil na condição de refugiado, em 2011, e trabalhava de forma informal para sobreviver.
De acordo com familiares de Moïse, ele tinha diárias atrasadas para receber e teria sido agredido ao cobrá-las. Já os presos, em sede policial, afirmaram que Moïse encontrava-se embriagado, após seu turno de trabalho no Biruta, e teria sido agredido ao tentar pegar cerveja de uma geladeira do Tropicália. Ainda de acordo com os presos, eles tentaram defender o funcionário que fazia o turno noturno no quiosque, que seria idoso, de nome Jaílson.
A possibilidade de Moïse ter diárias atrasadas para receber é uma das possibilidades que a polícia apura na motivação para o crime. Os agressores devem ainda ser indiciados por motivo torpe, ao final do inquérito, o que adicionaria mais uma qualificadora ao indiciamento. Até agora, o trio foi indiciado por homicídio duplamente qualificado: sem possibilidade de defesa e por meio cruel. Independente da motivação, as imagens mostram o quanto o crime foi bárbaro.
"Foi uma brutalidade absolutamente desproporcional. E, mesmo se verificando que há uma tentativa de reanimar a vítima, isso não apaga a brutalidade das ações que feitas anteriormente", disse o delegado Henrique Damasceno, responsável pela investigação.
Dono de Tropicália mentiu para agressor
Ainda na noite do crime, o dono do quiosque Tropicália, que estava em casa, recebeu um áudio, por Whatsapp, de Fábio Pirineus da Silva, vulgo Belo. Funcionário de uma barraca na areia, é ele quem desfere 25 golpes com um porrete na vítima, além de amarrar as mãos e os pés de Moïse. Belo queria saber se as câmeras estavam funcionando. O proprietário responde que elas estavam desligadas e diz que Belo pareceu aliviado com a informação. Ele entregou a troca de mensagens para a polícia.
Em seu depoimento à polícia, o proprietário concedeu detalhes como: a aquisição do estabelecimento; a contratação de funcionários e o motivo de ter dispensado Moïse do serviço, cinco dias antes do crime.
Segundo o relato do dono do local, ele comprou o quiosque em janeiro de 2019, mas somente há seis meses transferiu o estabelecimento do antigo proprietário para o nome do sogro, que o auxilia no trabalho. O sogro consta como proprietário porque o ajudou nos trâmites para a aquisição do ponto comercial, que é a sua única fonte de renda.
O proprietário relatou que não possui funcionários fixos, assim como a maioria dos quiosques da orla da Barra da Tijuca, que pagam diárias aos trabalhadores; alguns dos funcionários moram na própria praia.
Moïse, que tinha o apelido de angolano, trabalhou no quiosque no período de alta temporada, no sistema de diária, nos verões de 2019 e 2020. Por conta da pandemia, o quiosque não funcionou em 2021, mas reabriu neste ano. E, devido ao prejuízo causado pelas chuvas de janeiro, o local passou a ficar aberto 24 horas na última semana.
Ainda na versão do proprietário, Moïse nunca se envolveu em brigas, mas teria o costume de consumir bebida alcoólica durante o serviço e ficar embriagado. Teria sido esse o motivo que, no dia 19 de janeiro, fez o proprietário o dispensar antes do término do serviço. Ainda segundo sua versão, ele teria pago o valor da comissão referente ao dia e nã teria dívidas com o imigrante.
Na data seguinte, Moïse passou a trabalhar no quiosque vizinho, o Biruta. Ele não faltou a nenhum dia do trabalho. No dia do crime, o dono do quiosque Tropicália, que estava no local desde às 8h da manhã, foi para casa por volta das 20h30. O funcionário Jaílson ficou para o turno noturno.
Ainda segundo sua versão à polícia, na noite do crime, quando o saía do local, o proprietário disse que observara Moïse embriagado e o aconselhou a ir embora para evitar confusões. Moïse não atendera ao pedido.
Cerca de 2h30 após a saída do proprietário, ou seja, por volta das 23h, as imagens do estabelecimento mostram o congolês tentando abrir um geladeira do Tropicália, quando ocorre a discussão e a série de agressões por parte de Belo, Tota e Dezenove.
Ao ser informado do que ocorrera, o proprietário relatou que deixou os filhos pequenos na casa de um primo e foi até o local. Ao chegar no quiosque, foi informado de que Jaílson, funcionário do turno noturno, tinha ido até a delegacia e que o corpo de Moïse já havia sido levado por uma ambulância.