Homem está preso há quase um mês por ser confundido com traficante, diz família

De acordo com parentes, Alison foi identificado em um inquérito a partir de um apelido que na verdade pertence ao irmão dele

Foto: Reprodução
Pedreiro Alison da Silva Correa

Baterista e coordenador do grupo jovem da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, em Volta Redonda, no Sul Fluminense, o pedreiro Alison da Silva Correa, de 22 anos, está há 28 dias preso em uma cela de um presídio de Japeri, na Baixada Fluminense, por conta de um crime que, segundo sua família, ele jamais cometeu.

Pai de um filho de 1 ano e 7 meses e sem qualquer antecedente criminal, Alison teria sido identificado pelo apelido de Zeca, num inquérito da Polícia Civil que apura o crime de associação para o tráfico de drogas.

Segundo a família do rapaz, Zeca, na verdade, é o apelido de Jarlan Davi da Silva Correa, irmão do baterista. Jarlan chegou a ficar preso , por três meses, e respondeu por crimes de porte ilegal de arma e associação para o tráfico. Por coincidência, e beneficiado por um habeas corpus, ele deixou o mesmo presídio para onde o pedreiro foi conduzido, no dia da prisão de Alison . O pedreiro foi localizado e detido, no dia 27 de outubro, após ter a prisão preventiva decretada pela Justiça, durante a Operação Alcateia, deflagrada para desbaratar o tráfico em Volta Redonda.

Segundo Thayene Alves de Freitas Correa, de 22, esposa do baterista, a família recebeu a informação de que a polícia chegou ao nome de Alison a partir de um telefone apreendido com um traficante . Em diálogos registrados por um aplicativo de mensagens, detectadas no aparelho apreendido, um homem falava sobre aquisição de drogas com uma pessoa apelidada de Zeca. Como o chip do telefone usado por Zeca estaria em nome de um parente do pedreiro, a polícia identificou Alison como usuário do apelido.

"Fiquei desesperada. Estou sem chão com esta situação. Meu marido nunca fez nada de errado. A polícia diz que fez um trabalho de campo e associou o nome do Alison, dizendo que ele seria o Zeca. Falaram que o chip usado pelo Zeca estava em nome da mãe do Alison. Só que ela também é mãe do Jarlan e de mais três filhos. Conversei com o Jarlan, assim que ele retornou para Volta Redonda. Ele foi ao cartório comigo e fez uma declaração autenticada dizendo que Zeca é o apelido dele e não do Alison", disse Thayene.

Jarlan confirmou ter feito a declaração autenticada em cartório, mas negou lembrar de ter conversado com um traficante. Ele admitiu ter ficado preso, por três meses, por crimes de tráfico e de porte ilegal de arma, mas frisou ter sido apenas usuário de droga.

"Fiquei preso por uns três meses. Soube que meu irmão foi preso por conta do apelido de Zeca. Há três pessoas no bairro com este apelido e eu sou uma dessas pessoas. Assinei uma declaração em cartório assumindo o vulgo (apelido). Não lembro de ter conversado com nenhum traficante. Eu era só usuário. Sobre o Alison, posso dizer que meu irmão é uma pessoa tranquila e que trabalha desde os 14 anos e que está sendo vítima de uma injustiça. É claro que eu quero que ele seja solto", concluiu.

Procurado, o Ministério Público do Rio de Janeiro disse que o caso está com a 2ª Promotoria de Justiça Criminal de Volta Redonda . De acordo com MPRJ, a identificação de Zeca foi confirmada pela Polícia Civil, acrescentando que o aparelho apreendido estava em nome da mãe deste. Ainda segundo o MPRJ, a 2ª Promotoria de Justiça criminal se manifestou pela manutenção da prisão preventiva do acusado, após a 93ªDP (Volta Redonda) ratificar a identificação feita anteriormente.Também procurado, o Tribunal de Justiça disse que o caso citado está em fase de inquérito e que, no último dia 31, o plantão judiciário indeferiu pedido de revogação da prisão.

Já a Polícia Civil informou que, de acordo com a 93ª DP (Volta Redonda), as investigações levam em conta diversas provas técnicas e não somente um fator - como apelido, por exemplo - para identificar indivíduos envolvidos em crimes. Segundo a polícia, o homem citado e outras 26 pessoas foram detidas na mesma operação, em cumprimento a mandados de prisão expedidos pela Justiça.

Casada há dois anos com o pedreiro Alisson da Silva Correa, Thayene Alves de Freitas disse que a prisão do marido atingiu em cheio a rotina da família. O filho do casal, de um ano e sete meses, foi o que mais sentiu a prisão de Alison. Muito agarrado com o pai, que costumava ficar encarregado diariamente de dar o almoço para o filho, o menino parou de alimentar com comida de sal.

Além disto, a criança tem apresentado quadro febril emocional. Para piorar, o filho do casal também passou a ter dificuldades para dormir. A ansiedade de querer ter o marido ao seu lado novamente fez com que Thayene desenvolvesse crises respiratórias.

"Meu filho não dorme e nem se alimenta direito. Ele parou de comer comida e só aceita a mamadeira. É muito agarrado com o pai e está sentido bastante a ausência do Alison. Eu estou tendo crises de ansiedade e chego até ter dificuldades para respirar. Estou até dormindo com minha mãe, porque se acontecer algo, ela está perto para me socorrer. Peço a Deus para ter meu marido de volta. Além do lado emocional, é ele que trabalha e que mantém a família. Sem o dinheiro do trabalho dele a gente tem tido dificuldades e dívidas têm se acumulado", disse.

Nesta quarta-feira, parentes e amigos do pedreiro pretendem fazer um ato, em frente ao Fórum de Volta Redonda, pedindo a liberdade do rapaz. Samuel de Paula Marques dos Santos, um dos dois advogados que defende o baterista, disse ter tido dois pedidos de revogação da prisão negados pela Justiça. Um deles, no entanto, ainda não foi julgado definitivamente.

"Houve inicialmente uma negativa de liminar, e o mérito será ainda julgado por um desembargador. Estamos juntando mais provas. É absurda a situação que o Alison se encontra. Vamos lutar para que isso ( prisão preventiva) seja desfeito. Acreditamos totalmente na inocência dele", disse o advogado.

Abaixo, a íntegra da nota do MPRJ sobre a prisão de Alison.

"O processo em referência foi iniciado pela Promotoria de Justiça de Investigação Penal de Volta Redonda e, atualmente, está sob o encargo da 2ª Promotoria de Justiça Criminal de Volta Redonda. De acordo com a 2ª Promotoria de Justiça Criminal de Volta Redonda, a identificação de "ZECA", segundo a polícia, ocorreu da seguinte forma: o telefone através do qual ele se comunicava com os demais integrantes do tráfico de drogas da região encontra-se em nome de sua mãe. E durante trabalho de campo realizado pelos policiais civis da 93ª DP, foi apurado que é realmente ALISON quem atende pelo codinome "ZECA". Após assumir o caso, a 2ª Promotoria de Justiça Criminal de Volta Redonda teve a oportunidade de atender o advogado do acusado, bem como a esposa ( sendo este último atendimento mediante contato telefônico). Diante da situação apresentada, foi estabelecido contato com delegado responsável pela investigação, que reforçou o comprometimento e a seriedade de sua equipe na condução do caso e, posteriormente, apresentou no processo nova informação de sua equipe, ratificando o trabalho de campo feito anteriormente. Por tal motivo, e por se tratarem de crimes de enorme gravidade, a 2ª Promotoria de Justiça Criminal de Volta Redonda se manifestou pela manutenção, por ora, da prisão preventiva do acusado, sendo que, na data de ontem, o Juízo da 2ª Vara Criminal de Volta Redonda manteve a sua prisão preventiva."