Caso Flordelis: júri dos filhos começa nesta terça; veja cronologia dos fatos
A previsão é de que prestem depoimento 18 pessoas, a maioria delas de acusação, ou seja, convocadas pelo Ministério Público ou pelo assistente de acusação
Quatro filhos de Flordelis dos Santos que quebraram a "lei do silêncio" que havia na casa da ex-deputada federal estão entre as testemunhas a serem ouvidas em julgamento na tarde desta terça-feira, no plenário do Tribunal do Júri em Niterói, Região Metropolitana do Rio. Daniel dos Santos de Souza, Roberta dos Santos, Wagner Andrade Pimenta, o Misael, e Alexander Felipe Matos Mendes, o Luan, são alguns dos membros da família que decidiram contar à polícia detalhes da trama contra a vítima, o pastor Anderson do Carmo, e acusaram a mãe, Flordelis, de envolvimento na morte. Eles serão testemunha no julgamento dos irmãos, Flavio dos Santos e Lucas Cezar dos Santos.
A previsão é de que prestem depoimento 18 testemunhas, a maioria delas de acusação, ou seja, convocadas pelo Ministério Público ou pelo assistente de acusação. O pai do pastor Anderson, Jorge de Souza, atua com o MP no processo, representado pelo advogado Angelo Máximo. Daniel, Roberta, Misael e Luan são testemunhas de acusação.
Misael e Daniel foram os primeiros a procurar a polícia, no dia seguinte ao crime, para contar que a morte de Anderson já vinha sendo planejada dentro da própria família. Integrantes da família chegaram a relatar, em seus depoimentos, que eram incentivados e mentir e esconder o que acontecia na residência. Após o crime, eles relataram que advogados de Flordelis instruíram sobre o que dizer em seus depoimentos. Misael, Daniel, Luan e Roberta não participaram das reuniões.
Misael, que era vereador, apontou a mãe como “mentora intelectual” do crime em primeiro relato aos investigadores. Já Daniel chegou a dizer que o sofrimento da mãe e de alguns irmãos no enterro do pastor era um verdadeiro teatro. Ambos revelaram que a própria vítima já tinha conhecimento de que pessoas na casa estavam planejando a sua morte.
Também foram intimados dois delegados que atuaram no caso – Bárbara Lomba e Allan Duarte – e três investigadores e um perito legista que trabalharam na investigação. Foi chamado ainda Daniel Pereira Solter, motorista de Uber que teria acompanhado Flávio e Lucas até a favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, onde compraram a arma.
No total, são 15 testemunhas de acusação, sendo que uma delas, Tatiana das Graças Martins dos Santos, ex-mulher de Flavio, também é de defesa. Ela foi convocada tanto pelo Ministério Público quanto pela Defensoria Pública, que neste processo representa Flávio. Em 2019, Tatiana acusou o ex de ameaçá-la após o término do relacionamento.
Flávio ainda chamou outras três testemunhas para o julgamento: sua avó materna e mãe de Flordelis, Carmozina Motta, sua tia materna Abigail Correia Siqueira, irmã com quem a ex-deputada federal não tinha bom relacionamento e um preso, Felipe Raioni da Silva, condenado por homicídio. Felipe está na penitenciária Bandeira Stampa, conhecida como Bangu 9, no Complexo de Gericinó, onde Lucas e Flávio ficaram.
Durante o julgamento, primeiro são ouvidas as testemunhas de acusação e depois as de defesa. Por último, os réus são interrogados.
Logo no início das investigações da Polícia Civil, Flávio confessou ter atirado no padrasto, na garagem da casa da família em Pendotiba, Niterói, mas depois voltou atrás e negou envolvimento no crime. Já Lucas admite ter ajudado na compra da arma, mas já mudou de versão sobre saber ou não que a pistola adquirida seria para matar Anderson.
Ambos respondem por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e mediante traição, emboscada ou qualquer recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima). Flávio é acusado ainda de posse ilegal de arma de fogo de uso restrito, associação criminosa e uso de documento falso. Flávio ainda foi acusado de participar de um plano para atrapalhar as investigações do caso, forjando uma carta.
Em setembro de 2019, Lucas escreveu uma carta na prisão isentando o irmão Flavio de participação no crime acusando outros dois irmãos, Misael e Luan, de envolvimento no assassinato. Até então, nenhuma testemunha tinha apontado qualquer participação de Misael e Luan na trama, o que levou os investigadores a desconfiarem dessa versão.
Lucas acabou admitindo, em interrogatório na Justiça e em depoimento na delegacia que não tinha sido o autor da carta. O rapaz acusou a mãe, Flordelis, de ter sido a verdadeira responsável pelo texto, apenas copiado por ele. Nessa trama envolvendo a correspondência, Lucas chegou a ser denunciado por associação criminosa e uso de documento falso, mas a juíza Nearis dos Santos decidiu impronunciá-lo em relação a essas acusações, ou seja, entendeu que não havia provas.