Desabamento no Salgueiro: Secretária culpa pobreza por queda de construção
Duas das vítimas, uma fatal, eram do interior do Rio Grande do Norte e se mudaram para o Rio há somente quatro meses
Entre as vítimas do desabamento que ocorreu na noite da última quarta-feira (18) no Morro do Salgueiro, na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro, estava um casal que chegou à cidade há somente quatro meses. O homem, identificado até agora somente como Carlos, morreu no local. A esposa foi resgatada e passa por avaliação médica. Ambos vieram da cidade de Canguaretama, no interior do Rio Grande do Norte, para tentar uma vida melhor na cidade.
"O Carlos e a esposa vieram há 4 meses do interior do Rio Grande do Norte tentar a vida no Rio de Janeiro. Mas, infelizmente, aconteceu essa tragédia. Credito a tragédia à pobreza. As pessoas moram em casas como a que desabou não porque querem. Essa é a opção que elas tem", disse a secretária de Assistência Social Laura Carneiro.
Moradores relatam que quando os Bombeiros chegaram ao local do acidente, a esposa de Carlos pediu, ainda sob os escombros, para os militares salvarem o marido primeiro, pois acreditava que ele estava em pior estado de saúde. Nos escombros ainda eram visíveis os itens dos moradores como colchões, chinelos, panelas e tênis.
Além do casal, os bombeiros resgataram uma mulher e uma menina de quatro anos, ambas vivas. O incidente ocorreu na Rua Francisco Graça. As vítimas foram levados para o Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro e passam por avaliação médica.Segundo o Corpo de Bombeiros, as vítimas resgatadas com vida foram Alecsandra Silva, de 25 anos, Alessandra Silva, de 19 anos e uma menina de quatro anos.
Segundo Laura Carneiro, os outros integrantes das famílias que moravam no imóvel passaram a noite na casa de parentes e já foram atendidas por equipes da prefeitura, que irá oferecer o aluguel social. A Polícia Civil deve realizar uma perícia no local do acidente na manhã desta quinta-feira.
O prefeito Eduardo Paes e o secretário de Ordem Pública, Brenno Carnevale também estiveram no local e acompanharam o trabalho dos bombeiros. Ao Globo, Paes afirmou que as vítimas já estão sendo acompanhadas por uma equipe da Assistência Social, que irá providenciar o enterro e oferecer aluguel social aos desabrigados.
"Não se sabe se teve um acumulado de chuva muito grande nos últimos dias, e como hoje deu sou forte isso sempre acaba mexendo no solo. A construção era provavelmente frágil. Infelizmente, uma pessoa veio a óbito e três se feriram, uma mais gravemente", contou Paes.
De acordo com o prefeito, um casal que também morava na casa deixou o local pouco antes do acidente.
"Eles saíram cinco minutos antes do acidente, mas disseram que não havia nenhum indício do que poderia acontecer", diz Paes.
Um vizinho que preferiu não se identificar comentou que o barulho assustou toda a vizinhança.
"A casa foi descendo, parecia uma avalanche. O barulho foi muito alto. Quando cheguei aqui, vi a voz da criancinha chorando e da mais velha gemendo de dor. Veio muita gente, começaram a puxar. Uma criança saiu com vida", contou.
A construção tinha dois pavimentos e uma cobertura. Oito pessoas da mesma família moravam no local, segundo relatos de vizinhos. A construção fica na Rua Francisco Graça, próximo a uma quadra chamada Raízes.
"O prédio fica no meio da comunidade, difícil ser regular. Mas a construção não apresentava aparência de risco", diz o subprefeito da Grande Tijuca, Wagner Coe.
O cabeleireiro Alan Ricardo, de 20 anos, foi um dos primeiros a chegar no local. Ele conta que chegou a ouvir gritos de socorro do homem que morreu.
"Eu estava na varanda da minha casa e consegui ver a casa desabando. Quando cheguei, começamos a gritar para saber se tinha alguém ali. Foi quando o rapaz que morreu gritou dizendo que estava. Ele só conseguia mexer a perna e a boca", conta o morador.
De acordo com o subsecretário de Proteção e Defesa Civil, Rodrigo Gonçalves, engenheiros estão vistoriando as casas da região para avaliar riscos. Por enquanto, não há previsão de interditar imóveis no entorno.
"Estamos aguardando a perícia da Polícia Civil para entender o que aconteceu. Por conta da geotecnia do local, um relevo que tem talude, as casas têm uma construção mais complexa", afirmou Rodrigo.
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro foi acionado pouco após as 20h. Militares dos quartéis da Tijuca, Vila Isabel, do Grupamento de Busca e Salvamento (GBS), do 1° e do 2° Grupamentos de Socorro Florestal e Meio Ambiente (1° e 2° GSFMAs) trabalham no resgate, com apoio de drones e cães da corporação.