Pai de menino desaparecido na Baixada teria entrado para o tráfico por vingança
Preso ontem, Anderson de Jesus disse à polícia que seu objetivo era 'tomar' comunidade para saber quem teria matado Lucas Matheus, de 9 anos
A Polícia Militar prendeu, na sexta-feira, Anderson de Jesus, que segundo o delegado José Mário Salomão, da 54ª (Belford Roxo) é pai de Lucas Matheus, de 9 anos, um dos três meninos desaparecidos de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. De acordo com o delegado, no momento da prisão, os policiais militares encontraram Anderson na comunidade da Palmeira junto a um grupo de criminosos de uma facção da região. Na ocasião, eles estavam em confronto com rivais da mesma área. Mais seis pessoas foram presas.
O delegado afirma que Anderson era da facção rival a que é apontada como responsável pelo desaparecimento dos meninos. E, também segundo o delegado, ele se uniu ao outro grupo da mesma área para fazer vingança:
"Ele disse que o objetivo dele era tomar a (comunidade) Palmeira, e obter informação de quem foi o executor do filho", disse Salomão.
Segundo a Polícia Civil, Anderson foi autuado por associação ao tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Na delegacia, ele narrou que já fez parte de uma facção criminosa, tendo sido preso anteriormente, e que recentemente se associou à facção rival por conta da notícia da morte do filho.
De acordo com o delegado, o preso seria encaminhado, neste sábado, para um presídio em Benfica, para a audiência de custódia.
Em nota, a Polícia Militar diz que, além dos presos, foi apreendido dois fuzis, uma espingarda, uma granada e um colete balístico. A ocorrência segue em investigação na 54ª DP.
Investigação tem uma linha única
Em agosto, a Polícia Civil admitiu, pela primeira vez, seguir uma única linha de investigação para apurar o sumiço dos três meninos desaparecidos há quase oito meses em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. A hipótese investigada é a de que os garotos tenham sido assassinados por traficantes de drogas do Complexo do Castelar, mesma comunidade onde moravam, próximo ao Centro do município. Segundo a investigação, os corpos das crianças teriam sido ocultados pelos criminosos.
Durante uma live transmitida na época pelo deputado estadual Alexandre Knoploch (PSL), o delegado Uriel Alcântara, da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), encarregado de investigar o caso, disse que outras linhas anteriormente seguidas já foram descartadas.
"A investigação, a gente não pode contar detalhes, mas ela amadureceu bem no que seria possível. Nós temos alguns pontos muito comprovados. A gente não tem todos os fatos elucidados, mas o que temos é comprovado, é tudo muito firme, muito consistente. A gente precisa caminhar um pouco mais nesta investigação, que já se encontra madura. Na linha de investigação hoje foram descartadas outras possibilidades . E se trabalha com a responsabilidade do tráfico de drogas, por ter matado estas crianças e de ocultar os corpos", disse o delegado, num trecho da live.
Em 30 de julho, policiais da DHBF, bombeiros e mergulhadores vasculharam um trecho do Rio Botas, na divisa dos bairros de São Bernardo e Recantus, em Belford Roxo. Eles procuravam pelos três meninos, que segundo o depoimento de uma testemunha, teriam sido jogados no rio, dentro de sacos plásticos entregues por traficantes. No entanto, o resultado do exame apontou que se tratavam apenas de pedaços da cauda de um animal.
Relembre o caso
Lucas Matheus, de 9 anos, Fernando Henrique, de 12, e Alexandre Silva, de 11, desapareceram no dia 27 de dezembro, no Bairro Areia Branca, em Belford Roxo. O caso foi denunciado ao Comitê contra o Desaparecimento Forçado da Organização das Noções Unidas (ONU).
Em câmeras de seguranças de ruas próximas de onde os meninos moravam, no Morro do Castelar, foi possível identificar os três caminhando em direção à feira do bairro. No depoimento das testemunhas para a Polícia Civil, pelo menos duas confirmaram a passagem dos garotos pelo local.