Milícia do Rio destruiu 5 milhões de m² de área verde em construções ilegais
Levantamento da Secretaria municipal de Meio Ambiente coletou dados dos últimos três anos
Um corte profundo na encosta dá a dimensão da destruição numa área de proteção ambiental para erguer ilegalmente o Viva Verde Residencial, na Rua Soldado Antônio da Silveira, no Rio da Prata, em Campo Grande. A obra continua paralisada, desde que a Secretaria municipal de Meio Ambiente, com o apoio da Polícia Militar, realizou uma operação, em 23 de setembro, pondo abaixo o que estava pronto. O terreno está cercado, com cadeado e vigia.
Um levantamento inédito da secretaria, a partir de dados de satélites disponíveis, revelam o tamanho do estrago promovido especialmente por milicianos e narcomilicianos na cidade para erguer empreendimentos: de janeiro de 2017 a janeiro de 2020, o Rio perdeu 497 hectares em áreas verdes — 4,97 milhões de metros quadrados, o que é equivalente a dois bairros da Urca — que deveriam estar preservadas.
Campo Grande, Guaratiba, Santa Cruz e Paciência, na Zona Oeste, são os bairros mais afetados. Para tentar frear a ação de grupos criminosos, neste ano a secretaria passou a realizar ações focadas em áreas onde estão os maiores problemas do Rio. Desde o início do ano, foram feitas mais de 70 operações em locais onde foram suprimidos 285 mil metros quadrados de vegetação. A estimativa do órgão é de que o prejuízo dado aos grupos criminosos com essas ações seja de pelo menos R$ 374,28 milhões. Tal cálculo foi feito a partir de investimentos realizados e de futuros lucros, considerando plantas de empreendimentos encontradas.
"Se a prefeitura conseguiu, em pouco mais de nove meses, provocar um impacto de mais de R$ 374 milhões, qual é o tamanho dessa indústria? São grupos criminosos, poderosos e organizados — diz o titular da secretaria, Eduardo Cavaliere, que passa uma mensagem àqueles que pensam em comprar um imóvel: — Não invistam dinheiro nesses loteamentos. Como é o modus operandi desses grupos? Eles protocolam na prefeitura um pedido de legalização, que mostram para pessoas interessadas em comprar. Dizem que vão legalizar. Só que esses loteamentos são ilegalizáveis."
No Rio da Prata, a área desmatada, remanescente de mata atlântica, fica na zona de amortecimento do Parque Estadual da Pedra Branca. Lá, foram demolidas 37 construções em andamento — de um total de 144 derrubadas neste ano, contra cinco em 2020. Uma planta apreendida mostra que, num terreno de 135 mil metros quadrados, foram demarcados 360 lotes. O prejuízo aos donos do negócio é estimado em R$ 47,7 milhões.
De toda a área verde destruída em três anos, 33% (165 hectares) ficam às margens de rios, sendo a bacia mais afetada a do Cabuçu-Piraquê, que nasce em Campo Grande e deságua na Baía de Sepetiba. E, no ranking dos bairros mais afetados pelo desmatamento, Campo Grande está em primeiro lugar, seguido por Guaratiba, Santa Cruz, Paciência e Vargem Grande.