No fim de julho e início de agosto, a revista portuguesa Sábado publicou duas reportagens sobre o empresário Nuno Vasconcellos baseadas em depoimentos de desafetos dele. As matérias alegam ilações sobre uma dívida bilionária e não quitada que ele teria em bancos portugueses, além da participação do empresário em uma teia de companhias que estariam em nome de testas de ferro.
Devido ao cunho das informações publicadas, duas ações judiciais foram abertas contra o jornalista brasileiro Hudson Luiz Corrêa, responsável por uma delas. A primeira ação pede indenização por danos morais, correndo na Comarca de São Paulo, e a outra, criminal, tramita na Justiça do Rio de Janeiro e tem a audiência preliminar marcada para o dia 3 de novembro. De acordo com o jornal O Dia , ao menos 21 afirmações feitas pelo jornalista são improcedentes.
Os textos não apresentam provas das práticas atribuídas ao empresário e não considera as respostas dadas por Vasconcellos em uma entrevista concedida que durou pouco mais de três horas.
De acordo com trecho da peça que tramita na Justiça, a reportagem é "tendenciosa e ofensiva, elaborada com o intuito positivo e deliberado de difamar e injuriar". Mesmo a matéria tendo sido publicada em Portugal, está sujeita à legislação brasileira.
O texto apresenta uma série de incoerências, como quando cita que credores e autoridades brasileiras e portuguesas não têm sucesso em suas tentativas de localizar Vasconcellos ou que ele mora em um bairro protegido por um sistema de segurança rigoroso. Ambas as afirmações foram desmentidas pelo empresário.
Além disso, Corrêa chegou ao endereço de Vasconcellos sem dificuldades e tocou a campainha sem ter sido abordado ou bloqueado por nenhum segurança para fazer a entrevista. "Não estou respondendo a nenhum processo em Portugal, sendo mendaz a informação de que estaria fugindo de autoridades e credores", respondeu o empresário e, mesmo assim, concedeu a entrevista.
Além de as respostas de Vasconcellos não terem sido consideradas na reportagem do jornalista, ele autorizou que tirassem fotos da casa, desde que as que fosse possível identificar a residência onde ele mora não fossem publicadas. As condições foram aceitas no momento, mas não foram atendidas pelo jornalista.
As declarações do empresário ocupam pouco mais de vinte linhas em um texto de 14 páginas e não servem para deixar o ponto de vista de Vasconcellos claro ao leitor, apenas para pontuar as afirmações feitas na reportagem.
Imagens que expõem hábitos da família e mostram o filho do empresário de apenas três anos de idade também foram divulgadas sem autorização dos pais. Apesar de o rosto da criança ter sido borrado, o recurso não é mais aceito pela Justiça brasileira desde julho de 1990, data de publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. A lei é rigorosa em relação à exposição das crianças e, em seu artigo 17, não oferece atenuantes para quem atente contra a "preservação da imagem" infantil.
Além disso, toda a responsabilidade pelas dívidas deixadas pela Ongoing, empresa que Vasconcellos dirigia, é atribuída a ele, considerando que muitas delas já foram quitadas. "Embora o jornalista tente atribuir à pessoa física de Nuno a dívida de 1,2 bilhão de euros, o montante decorre do processo de falência da Empresa Ongoing, processada sem irregularidades".