"O Brasil precisa estar mais próximo de Israel", diz advogado André Fonseca
Especialista em Relações Internacionais, advogado pernambucano defende intensificação de negócios entre os dois países
O advogado pernambucano André Fonseca é um especialista em relações internacionais. Aproximou-se da diplomacia em 2008, quando assumiu a função de adido jurídico do Consulado do Peru no Nordeste do Brasil. Também assumiu, em 2014, o Consulado do Gabão, um dos países africanos que mais tem procurado ampliar as relações diplomáticas e comerciais com o Brasil.
Fonseca, que também atua como empresário do agronegócio, mantém relações estreitas com o Estado de Israel — e entende que os dois países têm muito a ganhar com uma maior aproximação e uma parceria comercial mais intensa. Nesta entrevista a O DIA e ao Portal iG, o advogado falou de sua ligação com o país do Oriente Médio e das possibilidades de negócios entre o Brasil e Israel.
O senhor tem um relacionamento estreito com o Estado de Israel. Por que o como surgiu essa aproximação?
Minha cidade natal, Recife, abrigou a primeira Sinagoga das Américas e, por isso, se firmou como um ícone e um marco para o Estado de Israel e, mais do que isso, para o nosso povo judeu. Foi também no Nordeste que, em 1500, como integrantes da esquadra de Cabral, que desembarcaram os primeiros judeus no Brasil. Um deles era o Mestre João, astrônomo e médico particular da coroa portuguesa. O outro era Gaspar da Gama, comandante da nau que transportava os alimentos para toda a tripulação. A partir desses fatos históricos e dessa relação com minha terra, passei a estudar e a admirar Israel e seu povo.
O que o senhor mais admira em Israel?
Soma-se a tudo que já mencionei a inteligência, a coragem, a resistência, o estrategismo, a lealdade e a fé dos israelitas. São adjetivos que, aprendi com meus avós, a aplicar ao Estado de Israel e ao povo judeu. Não bastasse isso, nem os percalços, as perseguições, as invasões e as guerras a que resistiram foram capazes de abalar a fé dos judeus em Deus. Tampouco foram obstáculos para o crescimento e o desenvolvimento do Estado e do povo judeu, espalhado por todo mundo.
Que relações o senhor mantém atualmente com Israel?
Devido a essa minha aproximação com Israel e meu apego ao povo judeu, recebi a outorga do título e da função de Conselheiro Mundial do Likudserbia, o maior partido político da direita israelense. Essa atividade, por sinal, muito me honra. Também presto consultoria jurídica para o “Hagana Consulting”, empresa ligada ao serviço de inteligência do Estado de Israel e ao Mossad. Isso, para mim, mais do que uma atividade profissional é uma honra e uma missão. Menciono esses fatos para deixar clara a relação de confiança que existe entre minha pessoa e o Estado de Israel.
Como o senhor vê a posição de Isral e como acha que ela interfere na estabilidade mundial e regional, no Oriente Médio. Qual a relevância o senhor vê no país?
O Estado de Israel tem um poderio bélico e tecnológico indiscutível no Oriente Médio. Além disso, conta com o apoio tradicional dos Estados Unidos, o que o torna ainda mais forte. Mesmo assim, entendo que Israel tem agido com prudência e moderação, sempre atuando nos canais diplomáticos como um Estado moderador, na tentativa de apaziguar e de encontrar soluções para conflitos na região.
Trazendo a discussão para a Amérida do Sul e para o Brasil, qual papel o senhor acha que Israel pode desempenhar por aqui? A relação entre os dois países pode ser aprimorada e gerar novas iniciativas?
O Estado de Israel é reconhecido mundialmente por sua capacidade de resistir e adaptar às mais diversas situações, especialmente nas adversidades. Uma dessas adaptações se deu na transformação das terras áridas e escassas do território israelense em grandes produtores de alimentos. Israel tornou-se um grande exportador de produtos hortícolas e frutícolas. É líder mundial em pesquisa agrícola e, apesar de contar com uma geografia e um clima extremamente hostis à prática das atividades agrícolas, fez do deserto um oásis. No caso do Brasil e em especial do Nordeste, cuja realidade eu conheço de perto, existe uma carência de tecnologia, de mão de obra especializada e até mesmo de interesse público no desenvolvimento da região...
É possível implantar no nordeste brasileiro um modelo semelhante ao que existe em Israel, e transformar a caatinga e o semiárido, que historicamente sofrem com a falta d’água, em territórios mais produtivos?
Acredito que a importação de tecnologia e a própria presença do povo Israelita no Brasil significará um reforço considerável ao agronegócio brasileiros, especialmente em certos trechos do Nordeste do Brasil. É uma região de “terras áridas, água escassa e salgada”, que pode muito bem ser comparada ao Oriente Médio. Israel pode oferecer soluções para aumentar a oferta de água potável não só com a dessalinização da água do mar, mas, também, do subsolo que, no Nordeste, quase sempre produz uma água salobra e imprópria para o consumo. Com a tecnologia desenvolvida em Israel, é possível fazer do sertão nordestino um gigantesco produtor de alimentos. Isso maximizará a oferta e minimizará o custo da comida além de gerar empregos e de valorizar as terras numa área que nunca foi olhada como uma solução — e sim como um problema.
Há outras áreas em que permitem essa aproximação?
As possibilidades existem e são muitas. Israel tem papel de destaque na produção de tecnologia em diversas áreas. Pouca gente sabe, para citar um único exemplo, que o Waze, o software de localização mais utilizado do mundo, é uma criação israelense. Há tecnologia de ponta aplicada ao turismo, à segurança, à indústria de construção, de armamentos, de petróleo e gás. A lista é enorme.
O Brasil vive uma crise monumental de energia. Israel pode contribuir para a solução, com tecnologias que aumentem a oferta?
Sim. Israel tem uma capacidade reconhecida na geração de energias alternativas. O importante é observar que o Brasil tem o que mais falta a Israel, que são os recursos naturais abundantes e as terras extensas. Em especial no Nordeste, onde o sol queima durante pelo menos dez dos doze meses do ano. Há ainda os rios e a área marinha, cujas correntes podem ser fonte de energia limpa e alternativa.