Após ameaças, Bolsonaro alega que era "apenas mais um na multidão"

Presidente da República atacou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mas procurou se eximir de qualquer responsabilidade pela crise política

Foto: Leco Viana/TheNews2/Agência O Globo
Jair Bolsonaro (sem partido), durante manifestação com apoiadores na avenida Paulista

Um dia depois de realizar discursos com ameaças ao Supremo Tribunal Federal e incitar seus seguidores contra o Poder Judiciário, o  presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falou nesta quarta-feira (08) que era apenas "mais um na multidão" que foi às ruas durante o 7 de Setembro.

O presidente promoveu durante semanas os atos, que contaram com caravanas de diversas partes do país rumo a Brasília e São Paulo. Na terça-feira, Bolsonaro fez um discurso recheados de ameaças, mas disse agora que era "apenas mais um na multidão". A conversa com apoiadores foi publicada por um canal simpático ao presidente de forma editada, com cortes entre as respostas de Bolsonaro.

Em uma delas, o presidente é questionado por uma apoiadora se conseguiu o retrato que queria com as manifestações realizadas.

"Não é fácil mudar uma coisa que está décadas encrustada no poder. Ontem eu era mais um na multidão. Nada sobe na minha cabeça, sei da minha responsabilidade e para onde o Brasil tá marchando também", disse Bolsonaro.

Após lançar mão de uma retórica que foi vista como excessivamente radicalizada pela maioria das lideranças na Praça dos Três Poderes, Bolsonaro falou com apoiadores no Palácio da Alvorada na manhã desta quarta. O presidente voltou a repetir que não pode resolver problemas "numa canetada" e se eximiu de uma série de crises que atingem o país.

Nesta quarta-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, deverá reagir aos ataques de Bolsonaro durante as manifestações. Também é aguardada um posicionamento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-PI).

Lideranças políticas de oposição também criticaram a afirmação do presidente. Além disso, partidos como PSDB e PSD admitiram que irão avaliar a possibilidade de apoiarem pedidos de impeachment.

Na conversa com apoiadores, Bolsonaro se eximiu de responsabilidade por diversos problemas. Segundo ele, a inflação crescente seria culpa dos governadores que decretaram medidas restritivas ao redor do país.

"Vi dois partidos políticos fazendo nota agora me atacando obviamente e falando do preço dos combustíveis, dos alimentos. Mas o que os partidos fizeram ano passado a não ser apoiar medidas dos governadores?", afirmou Bolsonaro.

O presidente também reclamou que a responsabilidade será colocada sobre ele: "Uma das consequências do fechamento é a inflação e o pessoal me culpa agora pela inflação. Impressionante. Falta conhecimento, né. E se fosse o outro presidente, ele tinha ajudado a fechar tudo. Seria o fim do Brasil", disse.


Ao ouvir de uma apoiadora que os manifestantes "assinariam embaixo" as medidas tomadas pelo presidente, Bolsonaro minimizou seus poderes.

"Fazer o futuro é cada um de vocês. Achar que eu tenho super poderes para levantar a espada e resolver? "Ah, vai lá, faz isso, faz aquilo". Não é assim que a banda toca. Isso que o Brasil vive é resultado de décadas de desmando, apoiados por muitos de vocês de forma inconsciente",  afirmou.