Aumenta o número de policiais que integram ambientes radicais e bolsonaristas
Fórum Brasileiro de Segurança Pública identificou, através de um levantamento, que 21% dos profissionais de segurança interagem em espaços de amplo apoio à visão de mundo do presidente da República
A adesão de policiais ao bolsonarismo se intensificou neste ano. O número de de profissionais das forças de segurança pública interagindo em ambientes radicais de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas redes sociais cresceu 24% entre 2020 e 2021. Os dados são de uma pesquisa lançada nesta quinta-feira pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Em 2020, 17% dos policiais estavam presentes nesses espaços digitais radicalizados (são 21% neste ano), enquanto 13% interagiam antes em redes bolsonaristas não radicais (agora, 17%). Ao todo, a média ponderada desses profissionais presentes em ambientes ligados ao bolsonarismo passou de 30% para 38% em 2021. A taxa é superior à da população brasileira, em que 27% participam de ambientes bolsonaristas, e 17%, de ambientes bolsonaristas radicais.
A metodologia da pesquisa considera como ambientes bolsonaristas radicais os grupos e canais com participação expressiva de seguidores de páginas declaradas de fãs e militantes a favor de Bolsonaro e sua visão de mundo. O presidente vem fazendo declarações golpistas, como as que considera não haver eleições no ano que vem, e ameaças às instituições democráticas.
A interação de policiais militares é superior à das outras polícias. Na PM, 27% participam de espaços bolsonaristas radicalizados, e 21%, de espaços não radicalizados. Em 2020, os índices eram de 21% e 17%, respectivamente. Na Polícia Civil, por outro lado, 6% estão em ambientes bolsonaristas radicais (antes eram 4%), e 7%, em ambientes bolsonaristas não radicais (5% em 2020).
Na Polícia Federal, 7% dos agentes participa de ambients bolsonaristas digitais, e 10%, de ambientes bolsonaristas. As taxas eram de 5% e 8% no ano passado, na mesma ordem.
A politização das polícias vem causando preocupação entre especialistas da área e principalmente governadores, que enfrentam o risco de perder o controle sobre as tropas. Na semana passada, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), mandou afastar o coronel da PM Aleksander Lacerda por indisciplina. O policial havia feito em suas redes sociais convocações à manifestação de 7 de Setembro a favor de Bolsonaro, ataques a ministros do Supremo e inclusive a Doria. O estatudo da corporação proíbe declarações de cunho político-partidário a policiais da ativa.
O episódio gerou forte reação da classe política ligada às Polícias. Segundo levantamento do Globo, 19 dos 58 deputados estaduais advindos de carreira policial, com patentes em seus nomes parlamentares, endossaram as mesmas convocações feitas por Lacerda, e muitos criticaram o afastamento do coronel.
Casos de insubordinação vêm se repetindo. Em maio, políciais militares atiraram contra uma manifestação pacífica contra Bolsonaro em Recife. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afastou o comandante da operação.
O levantamento do FBSP mapeou as atividades de 651 profissionais de segurança pública nas redes entre janeiro e agosto de 2021. Para a validação da presença dos policiais nesses ambientes digitais, os pesquisadores consideraram interações como curtidas, comentários ou compartilhamentos de publicações.