Justiça do Rio mantém prisão de Cristiano Girão, acusado mandar matar rival

Ele teria contratado o PM reformado Ronnie Lessa, o mesmo que matou Marielle Franco e motorista Anderson Gomes, para matar um miliciano em 2014

Foto: Reprodução
Ex-vereador Cristiano Girão sendo preso

A Justiça do Rio negou o pedido de liberdade do ex-vereador Cristiano Girão, preso no final de julho durante uma operação que investiga os assassinatos do casal André Henrique da Silva Souza, o Zóio, e Juliana Sales de Oliveira, em junho de 2014. A decisão foi assinada pelo desembargador Claudio Tavares de Oliveira Junior na última quinta-feira, e é em caráter liminar (provisório).

Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio apontam que o PM reformado Ronnie Lessa, que está preso pela morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, executou André e Juliana a mando de Girão, que cumpria pena em regime fechado na época. Na ocasião, segundo denúncia do MP, o político era apontado como líder da milícia da Gardênia Azul, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio.

De acordo com a denúncia, o crime aconteceu porque "Zóio" pretendia dar um "golpe de estado" e assumir a liderança e poder paralelo na região, passando a cobrar os valores pagos a título de taxas ilegais e aluguéis, até então recebidos pelo ex-vereador. Juliana acabou executada como forma de garantir a impunidade do crime.

Pelo crime, o ex-vereador é acusado de duplo homicídio. Os investigadores chegaram até Girão a partir de depoimentos de testemunhas e ao descobrirem uma pesquisa feita no Google por Lessa sobre notícias das mortes, em 19 de fevereiro de 2018. Na época, ele buscou: "Casal morto na Gardênia Azul". Girão já foi condenado por lavagem dinheiro, envolvimento com a milícia da Gardênia Azul e formação de quadrilha.

Cristiano Girão foi vereador do Rio pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN) e atualmente não tem mais filiação partidária. Ele foi condenado em 2009 a 14 anos de prisão, por chefiar a milícia da Gardênia Azul. Com a condenação, perdeu o mandato em 2010. Girão ficou preso por cerca de oito anos. Em agosto de 2017 ganhou direito a liberdade condicional por meio de indulto. Ele chegou a ser alvo de investigações no caso Marielle, mas a polícia descartou a hipótese de participação no crime ainda na primeira fase do inquérito.

'Nunca mandei matar Marielle ou ninguém'

Em entrevista à Veja, quando perguntado se havia mandado matar Marielle Franco, Girão devolveu o questionamento abordando o fato de ter comparecido à Câmara dos Vereadores, sete dias antes da morte de Franco. "Você acha que se eu tivesse envolvimento em querer matar alguém eu iria lá na Câmara dos Vereadores para botar a minha cara? Não fui escondido, passei normalmente como qualquer outro cidadão. É a casa do povo. Não estava impedido de entrar em nenhuma repartição pública. Acho isso uma covardia. Se não tivesse ido à Câmara, ninguém saberia que eu estive no Rio de Janeiro, não iria aparecer", defendeu-se.

Questionado sobre o que sabia sobre Marielle, Cristiano Girão afirmou que 'nunca ouviu falar da moça' e ainda deixou um recado para a família da vereadora. "Queria deixar um recado para a família de Marielle: se eu for preso como mandante, que eles continuem buscando o real mandante, porque não fui eu. Vão dar uma resposta errada para a sociedade. Uma resposta errada. Nunca mandei matar Marielle ou ninguém", contou.

De acordo com o ex-vereador, ele não faz ideia de quem teria matado Marielle e as acusações de Júlia Lotufo seriam apenas para acobertar alguém, que ele não soube dizer quem era. "Ela é mulher do Adriano. Ou realmente ela está querendo acobertar alguém ou não sabe de po*** nenhuma. Está querendo se beneficiar na Justiça, porque é fácil pegar os nomes que estão sendo batidos hoje", revelou.

Perguntado sobre sua ligação com Ronnie Lessa, Girão disse que não o conhecia e também negou conhecer Zóio, vítima do duplo homicídio em Gardênia, o qual o ex-vereador foi preso como mandante nesta sexta-feira. "Não sei o que aconteceu ou o que ocasionou isso. Não posso ser o mandante de todos os crimes do Rio de Janeiro", argumentou.

De acordo com Girão, atualmente ele vive como uma pessoa 'pacata', que trabalha em uma confecção de roupas e pretende cuidar de sua filha de 11 meses. "Sou um ser humano, tenho sentimentos também. Você sabe como é São Paulo, uma cidade muito difícil. Evito sair. Temo pela minha família e de repente me vejo pensando: “será que vão entrar aqui em casa e matar todo mundo?", completou.