Munição desviada de forças de segurança é usada em dezenas de homicídios no RJ
Segundo investigações, munição desviada foi usada em pelo menos dez ações diferentes na última década e resultou na morte de 20 pessoas em todo o estado do Rio de Janeiro
Investigações apontam que munição desviada de forças de segurança foi usada em pelo menos dez ações diferentes na última década, resultando na morte de 20 pessoas no estado do Rio. Os cartuchos foram utilizados em execuções, chacinas e guerras de facções em oito municípios distintos da Região Metropolitana. Traficantes, milicianos e matadores de aluguel estão por trás desses homicídios, segundo inquéritos policiais.
A investigação sobre desvios de munição é dificultada pelos tamanhos dos lotes comprados pelas forças de segurança. Desde 2004, uma portaria do Exército estabelece que lotes comprados com esse fim devem ter até 10 mil cartuchos — justamente para facilitar o rastreamento. A determinação é recorrentemente ignorada por polícias e Forças Armadas.
Um exemplo de violação da regra é o lote UZZ18 comprado pela Polícia Federal, do qual saíram os projéteis usados para assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes . Tinha 1.859.000 cartuchos. Até hoje, três anos após o crime, não se sabe como as balas foram desviadas.
Há uma década, em 2011, foi justamente o rastreamento dos projéteis que levou os investigadores aos responsáveis pela morte da juíza Patrícia Acioli. Como a série tinha apenas 10 mil projéteis, foi distribuída a apenas dois batalhões no estado. Num deles, o 7º BPM, de São Gonçalo, estavam lotados vários policiais alvos de decisões da juíza por integrarem um grupo de extermínio.
Em abril do ano passado, o Exército publicou uma portaria que tinha como objetivo diminuir ainda mais o número de cartuchos por lote, para facilitar o controle da munição. O texto determinava que, “a cada dez mil unidades comercializadas, deverá ser utilizado um único código de rastreabilidade, podendo ser marcadas frações menores até um mínimo de mil unidades”. O presidente Jair Bolsonaro determinou, horas após a publicação, a revogação da portaria.