Caso Covaxin: Bolsonaro teria negociado vacinas com reverendo

Informações estão em celular do policial militar que negociava doses da AstraZeneca; Encontro teria sido em 15 de março

Foto: Reprodução
Bolsonaro é citado em conversas entre o 'PM vendedor de vacinas', Luiz Dominghetti, e o reverendo Amilton Gomes de Paula

Três pessoas ligadas ao reverendo Amilton Gomes de Paula, que teria intermediado a venda de vacinas ao governo federal , disseram ao policial militar Luiz Paulo Dominghetti, o negociador de 400 milhões de doses da AstraZeneca, que o religioso se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 15 de março. Um auxiliar de Amilton diz ao cabo da PM: “O reverendo nesse momento está com o 01”.

A informação está nas mensagens encontradas no celular de Dominghetti, apreendido pela CPI da Covid, e reveladas ontem pelo “Jornal Nacional”, da TV Globo. A troca de mensagens sugere que Amilton era a conexão do grupo representado por Dominghetti e o Palácio do Planalto e que tratou sobre os imunizantes com o chefe do Executivo.

Em outra mensagem, Amilton diz a Dominghetti : “Ontem falei com quem manda! Tudo certo! Estão fazendo uma corrida compliance da informação da grande quantidade de vacinas!”.

Questionado pela TV Globo sobre a quem ele se referia ao dizer que conversou com “quem manda”, o reverendo não soube responder:

"Bom, conversei com quem manda... A gente pode ter assim várias ideias de que quem manda, né?", afirmou Amilton, ao programa Jornal Nacional. "Quem manda tem que ver, né? (...) Fico atendendo vocês e, assim, fico sem uma resposta."

Na último dia 7, o Globo já havia mostrado que Dominghetti recebera mensagens em que interlocutores garantiam que o reverendo estivera em contato com Bolsonaro e que Amilton falava ao PM sobre ter conversado “com quem manda”.

‘Pulga atrás da orelha’

A troca de mensagens começa em 13 de março, segundo a reportagem da TV Globo. Naquele dia, o PM diz ao representante da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, que “estão viabilizando uma agenda com presidente”, de “forma extraoficial”. Depois, Cristiano diz: “O reverendo está falando que está marcando um café da manhã com o presidente amanhã, às 10h, 9h, (...) vai ter um café com os líderes religiosos e a gente vai entrar no vácuo, tá? Agora tem que fazê-lo confirmar isso aí para a gente colocar uma pulguinha atrás da orelha do presidente.”

No dia 15 de março, a agenda de Bolsonaro mostra um encontro com líderes religiosos no Palácio do Planalto, das 16h às 18h. Às 17h, Dominghetti pergunta a um auxiliar de Amilton: “Como foi a visita do reverendo ao 01?”. O interlocutor, identificado como Amauri responde: “O reverendo nesse momento está com o 01”. No dia seguinte, o reverendo diz ao PM que esteve “com quem manda”.

Apesar disso, seu nome não consta na lista oficial de participantes do evento. À TV Globo, ontem, Amilton afirma que “não estava na reunião”, mas não explica por que ele e três auxiliares disseram o contrário a Dominghetti. O Palácio do Planalto não respondeu aos questionamentos da reportagem do “Jornal Nacional”.


Previsto para depor à CPI da Covid hoje, Amilton conseguiu adiar a convocação ao apresentar um atestado médico que o impede de depor por 15 dias.