Caso Henry: governador do RJ deve informar Câmara sobre telefonema de Jairinho
Vereador ligou para o governador do Rio de Janeiro para dar sua versão sobre a morte do menino; prazo para o governador Cláudio Castro informar câmara de vereadores sobre conteúdo da ligação termina nesta quarta-feira, 09
Termina nesta quarta-feira o prazo para o que o governador do Rio, Cláudio Castro, envie suas respostas por escrito ao Conselho de Ética da Câmara Municipal sobre o telefonema que recebeu do médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), na madrugada de 8 de março deste ano. A conversa foi sobre a morte do menino Henry Borel, de 4 anos, ocorrida horas antes. Na conversa, Jairinho deu a Castro sua versão sobre o ocorrido com o enteado — a mesma que contou em depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca): que ele e a mãe da criança, Monique Medeiros, a encontraram desacordada. O governador teria respondido que caberia à Polícia Civil decidir sobre as investigações. Jairinho e Monique estão presos .
"Agora falta só o governador Cláudio Castro, que tem até esta quarta-feira para enviar as suas respostas por escrito ao Conselho de Ética. Já estamos desde o dia 24 de maio na fase instrutória do processo. Pretendemos finalizar antes do recesso de julho", disse o vereador Luiz Ramos Filho (PMN), relator do processo de cassação de Jairinho.
Nesta terça-feira, prestou depoimento ao Conselho de Ética o executivo Pablo Menezes, vice-presidente de operações e relacionamento da Qualicorp e conselheiro da Rede D'Or — Henry chegou morto ao Hospital Barra D'Or. Ele contou detalhes sobre os telefonemas e mensagens que recebeu de Jairinho, na madrugada de 8 de março. Os contatos do parlamentar, segundo Pablo, foram para tentar impedir que o corpo do menino fosse encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML), onde o laudo de exame de necropsia acabou apontando hemorragia interna e laceração hepática provocada por ação contundente, além de equimoses, hematomas, edemas e contusões incompatíveis com um acidente doméstico.
De acordo com o depoimento, o executivo relatou ter sido contatado pelo parlamentar a partir de 4h57m. "Amigo, me dá uma ligada", "Coisa rápida" e "Preciso de um favor aqui no Barra D’Or" foram as mensagens que ele recebeu do vereador. Cerca de duas horas depois, às 6h56m, outro recado: "Amigo, assim que puder me liga". Pablo afirmou ter conhecido Jairinho, com quem trocou o número de telefone, em um evento na Câmara dos Vereadores, em 2019. Disse ainda que passou a ser procurado por ele com pedidos de atendimento para pacientes com Covid-19. Por isso, chegou a responder: "A coisa tá pegando lá".
Às 7h17m, Jairinho ligou mais duas vezes para Pablo. Em tom calmo e sem demonstrar nenhuma emoção, o vereador contou haver acontecido "uma tragédia", que o enteado havia morrido e "pediu que agilizasse o óbito". Ele havia chegado ao Barra D'Or com Monique e o filho dela às 3h50m. O óbito do menino só foi atestado às 5h42m por equipe médica da unidade de saúde. O executivo ligou para o hospital e foi informado de que seria necessário o envio do corpo ao IML, já que a criança chegara à unidade em "PCR" — parada cardiorrespiratória — e a morte não tinha causa estabelecida.
"Agiliza ou eu agilizo o óbito. E a gente vira essa página" e "Vê se alguém dá o atestado para a gente levar o corpinho e virar a página", disse Jairinho logo depois em outras mensagens. Pablo Menezes então disse que não atenderia ao pedido do parlamentar. "Eu não atenderia nenhum pedido ilegal e tinha a certeza de que os profissionais do hospital também não atenderiam. Porém ressalto que, neste caso, não cabia a mim atender ou não o pedido de Jairinho: é uma questão de autonomia médica, que considera todos os mandos legais. O motivo de os médicos não terem atendido se liga às circunstâncias de que a criança chegou ao Barra D’Or em parada cardiorrespiratória, com equimoses pelo corpo, e o óbito não tinha causa definida, sendo mandatário o envio do corpo ao IML", disse o executivo.
No depoimento, Pablo afirmou ainda ter sido novamente procurado por Jairinho em 11 de março, por meio de ligações e mensagens. "Podendo chama", escreveu o vereador. O executivo diz não ter respondido e contou ter ficado "muito desconfortável" diante do pedido feito pelo parlamentar e ainda acreditar que ele tenha ficado "desapontado" com a sua recusa em atendê-lo.