Família Bolsonaro é líder em ataques à imprensa em 2020, aponta levantamento
Jornalistas foram alvos de 580 ataques do presidentes, seus filhos e ministros durante o ano passado, em sua maioria pelo Twitter, de acordo com levantamento da ONG Repórteres sem fronteiras
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o vice, Hamilton Mourão (PRTB), ministros, os filhos e também assessores ligados à secretaria de Comunicação foram responsáveis por 580 ofensas a profissionais da imprensa no Brasil, em 2020, segundo levantamento feito pela organização internacional Repórteres sem Fronteiras, divulgado nesta segunda-feira. A família do presidente aparece nas principais posições do ranking de agressores da imprensa , com 85% das ofensas compiladas pela organização não-governamental.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) lidera a pesquisa, com 208 casos registrados , seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), com 103 ataques, pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), com 89, e pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos - RJ), com 69 agressões.
Segundo a ONG, as redes sociais foram uma das principais arenas usadas pelo " sistema Bolsonaro
" para hostilizar a imprensa: 85% das agressões foram realizadas por meio do Twitter, seja por republicações ou agressões de autoria própria.
“Até o momento, nada indica que o "sistema Bolsonaro" vá interromper sua lógica de ataques e sua operação orquestrada para desacreditar a mídia. O desafio para a imprensa brasileira é imenso. O caminho para enfrentá-lo aponta na direção da coragem e da resiliência, para seguir levando informações confiáveis ao público e, assim, recuperar a confiança no jornalismo de qualidade”, diz o relatório.
O levantamento aponta ainda que o Palácio do Alvorada, residência oficial do chefe do Executivo, “se tornou símbolo da sua hostilidade aos jornalistas ”.
Um dos episódios citados pela ONG foi quando Bolsonaro apareceu na porta do Alvorada acompanhado por um humorista disfarçado de presidente, a quem pediu para distribuir bananas aos jornalistas presentes. Naquele dia, Bolsonaro ignorou o resultado do PIB do seu primeiro ano de gestão, e não fez nenhum comentário dobre a menor taxa desde o fim da recessão.
Apoiadores de Bolsonaro também começaram a insultar cada vez de forma mais agressiva os profissionais de imprensa, que trabalhava no local.
A escalada de agressões a imprensa fez com que o Grupo Globo e outros veículos de imprensa decidissem, em maio do ano passado, que seus profissionais não fizessem mais plantão na porta da residência oficial do presidente.
Segundo o levantamento, o Grupo Globo foi o principal alvo de ataques no ano passado, com 192 agressões registradas. Os ataques tinham o "objetivo de abalar a credibilidade de importantes veículos de comunicação", diz a ONG.
O relatório mostra ainda que metade dos ministros (11 dos 22) promoveu ataques à imprensa em 2020. A titular Damares Alves, da pasta da Mulher, Famílias e Direitos Humanos, lidera o ranking de ataques na Esplanada, com 19 agressões contabilizadas pela ONG.
Em todo o mundo, o Brasil ocupa a 107ª colocação no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2020, estabelecido pela Repórteres sem Fronteiras.