Governo Bolsonaro sabia de "iminente colapso" no Amazonas 10 dias antes de crise
Em ofício ao Supremo, AGU diz que Ministério da Saúde fez reuniões entre os dias 3 e 4 de janeiro. Falta de oxigênio ocorreu no dia 14
O governo federal sabia do “iminente colapso do sistema de saúde” do Amazonas por conta do novo coronavírus dez dias antes da crise estourar. A informação faz parte de um ofício encaminhado pela Advocacia Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF).
No documento, a AGU diz que o Ministério da Saúde fez reuniões entre os dias 3 e 4 de janeiro com autoridades locais em que detectou que o sistema de saúde do Amazonas estava à beira do colapso. No dia 14, faltou oxigênio hospitalar no estado , afetando pacientes internados em UTIs.
Só aí o governo anunciou a transferência de pacientes do Amazonas para outros estados. A resposta da AGU foi revelada pelo jornal "Folha de S. Paulo" e também foi obtida pelo GLOBO.
O Amazonas vive uma das piores crises sanitárias de sua história. Nas últimas semanas, o estado vem tendo um aumento acelerado no número de casos de Covid-19, com reflexo nas internações e no aumento do consumo de oxigênio hospitalar.
No dia 14 de janeiro, a situação ficou insustentável. Faltou oxigênio em diversos hospitais da cidade. Diante da crise, o governo estadual decretou toque de recolher e o governo federal anunciou a transferência de pacientes do Amazonas para outros estados.
O ofício assinado pelo advogado-geral da União, José Levi Mello Júnior, relata as providências tomadas pelo governo em relação à crise no Amazonas .
O documento menciona que dez dias antes da crise se agravar, o governo foi informado por autoridades locais sobre a situação crítica no estado. O documento detalha que o governo já havia detectado a possibilidade de um colapso no estado.
“As reuniões foram realizadas entre 3 e 4 de janeiro de 2021, quando foram sumarizadas as seguintes conclusões: há possibilidade iminente de colapso do sistema de saúde , em 10 dias, devido à falta de recursos humanos para o funcionamento dos novos leitos”, diz o documento.
Em outro trecho, o governo faz uma estimativa de que o auge da crise se daria entre os dias 11 e 15 de janeiro.
“Estima-se um substancial aumento de casos, o que pode provocar aumento da pressão sobre o sistema, entre o período de 11 a 15 de janeiro, em função das festividades de Natal e réveillon ”, diz outro trecho do ofício.
Pasta foi informada no dia 8 sobre risco de falta de oxigênio
O documento diz ainda que o Ministério da Saúde foi informado no dia 8 de janeiro sobre a iminente escassez de oxigênio para os hospitais de Manaus.
O alerta foi feito por e-mail pela White Martins, principal fornecedora de oxigênio hospitalar no Amazonas. O e-mail, que também havia sido enviado para a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), detalhava os motivos da escassez.
“O imprevisto aumento da demanda ocorrido nos últimos dias agravou consideravelmente a situação de forma abrupta, superando em muito o volume contratado pela Secretaria junto à White Martins”, diz um trecho do e-mail.
Na resposta, a AGU diz que, desde o dia 8 de janeiro, o Ministério da Defesa passou a providenciar estrutura para distribuir cilindros de oxigênio para o Amazonas.
No documento, a AGU acusa o governo do Amazonas de ter informado o governo federal de forma “tardia” sobre a falta de oxigênio hospitalar.
“O colapso do estoque de oxigênio hospitalar na cidade de Manaus foi informado de maneira tardia aos órgãos federais, que empregaram toda a diligência possível para contornar a situação, sobretudo mediante a mobilização da Força Nacional de Saúde do SUS ”, diz a AGU .
A reportagem questionou a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) sobre a alegação de que a comunicação sobre o estoque de oxigênio ter sido feita tardiamente, mas até o momento, não obteve resposta.