RJ: autor de atropelamento e morte de ciclista não poderia circular com carro

Há anos o veículo apresentava documentação irregular; até o momento homem não foi encontrado e nem identificado

Foto: Arquivo pessoal
Ciclista é atropelado na manhã desta segunda na Zona Oeste do Rio

O Hyundai HB20 em que estava o motorista que atropelou e matou o taxista aposentado Cláudio Leite da Silva, de 57 anos, na manhã desta segunda-feira, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro , não poderia estar circulando pelas ruas. Segundo o Detran , o último licenciamento do automóvel é datado de 2018. Ou seja, há mais de dois anos o carro está com a documentação irregular.

Segundo testemunhas, o atropelador — que havia deixado um bar em um posto de conveniência do bairro — fugiu correndo pelas ruas do Recreio após ser informado da morte de Cláudio. Até agora, ele não foi identificado nem localizado.

Ainda de acordo com as testemunhas, o acidente aconteceu pouco depois das 5h40, quando Claúdio seguia para casa, a poucos metros do local do acidente. O ciclista já havia percorrido pelo menos 100 quilômetros antes de morrer. Cláudio costumava sair diariamente de casa ainda de madrugada e percorrer trajetos que variavam entre Grumari e Pedra de Guaratiba.

"Ele morava a duas quadras daqui. Pela posição que a bicicleta está e pela violência da batida, suponho que estava voltando e faltava muito pouco para ele chegar em casa. Todo dia, ele me mandava às fotos. Ás 9h, ele já tinha pedalado 100 quilômetros todos os dias. Às 10h, ele já tinha tomado banho, ido ao mercado e o dia dele estava resolvido. Ele saía muito cedo (para pedalar) porque os dias estavam muito quentes", conta o empresário David Portilho, que é primo da vítima.

Apaixonado por uma vida saudável, David lembra que Cláudio tinha o sonho de um dia motoristas e ciclistas viverem em harmonia pelas ruas da cidade.

"Cláudio era um defensor fervoroso de carros e bicicletas vivendo em igualdade. Ele tinha um grupo de ciclistas para isso. Ele sempre dizia que "a saúde vem em primeiro lugar", completa David.

Claudio estava em uma bicicleta de fibra de carbono e pedalava sozinho no momento em que foi atingido. Segundo relatos, o atropelador estava bebendo em um bar, que fica dentro de um posto de conveniência, na Avenida Glaucio Gil a poucos metros de onde aconteceu o acidente. Antes de atropelar o ciclista, ele bateu em uma Kombi e no meio-fio.

"No posto de combustível (da Gláucio Gil), (eles disseram) que a pessoa que saiu no HB20 preto estava bebendo muito e chegou a derramar uma garrafa de uísque no chão e teria comprado outra. Existe uma garrafa de uísque dentro do carro. Além disso, as testemunhas falaram que ele teria saído de lá catando pneus. Ao deixar o posto, jogou em cima de uma Kombi. Para não bater no veículo, acabou acidentando o cilcista", conta o advogado Everton Jordão, que mora em um prédio próximo ao acidente.

O advogado diz que desceu de seu apartamento para tentar ajudar a vítima. "As câmeras do prédio flagraram o momento do atropelamento. Eu desci para ver se eu conhecia a pessoa e ajudar. Quando notamos, as pessoas correram atrás dele, mas ele conseguiu fugir", completou Everton.

O HB20 tem placa de Barra Mansa, no interior do estado. Além disso, o veículo tem um adesivo de que é adaptado para pessoas com algum tipo de deficiência física. Ao lado do carro, os policiais encontraram uma Bíblia, que segundo eles, estava dentro do veículo.

Ainda segundo as testemunhas, dentro do carro tinha um documento de apresentação ao Tribunal de Justiça do Rio , no dia 6 de janeiro, por conta de uma audiência de custódia.

"Eu entreguei (o papel) para a polícia. O que me chamou a atenção foi esse documento. Mas não posso afirmar se era do motorista ou não. Além disso, tinha um cartão de débito no nome de Luiz Claudio",  lembra Everton Jordão.

Cláudio pedalava há mais de 20 anos

Após deixar de rodar pelas ruas da cidade, Cláudio decidiu que era hora de cuidar do corpo e da mente. Por isso, passou a se dedicar ao ciclismo. Era comum que ele pedalasse sozinho ou com apenas um amigo. Casado há mais de 30 anos e sem filhos, o ciclista decidiu aproveitar mais a vida. Após saber da morte do marido, a mulher entrou em choque.

"Ele estava em uma nova fase, porque eles estavam separados e voltaram. Ele passou a pedalar e curtir mais a vida. Ele amava esse esporte. Uma bicicleta de fibra de carbono está quebrada em várias partes. Foi uma pancada forte que demostra que não há um devido respeito à nossa vida. Ingere bebida alcoólica, pega um volante e acontece isso. Há pouco tempo, tivemos aquele casal que foi morto (perto do mesmo local). Infelizmente, esses casos são recorrentes. Quem se comporta desse jeito não pode continuar no trânsito. Que a sociedade reflita sobre a posição do ciclista. Isso acontece muito. Temos que conscientizar o próximo sobre o perigo de pegar um carro alcoolizado. Temos que evitar esse tipo de comportamento e preservar a vida que é o mais importante", afirma David.