Funcionários fazem ato no Hospital de Bonsucesso: "Saúde não é mercadoria"

Manifestação na manhã desta terça-feira pede pela continuidade dos atendimentos

Médicos, enfermeiros e funcionários do Hospital Federal de Bonsucesso 'abraçaram' a unidade na manhã desta terça-feira
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Médicos, enfermeiros e funcionários do Hospital Federal de Bonsucesso 'abraçaram' a unidade na manhã desta terça-feira

Com cartazes “saúde não é mercadoria”, “não é servidor da saúde quem causa prejuízo no Brasil” e “não à privatização do SUS”, médicos, enfermeiros e servidores de diversas especialidades do  Hospital Federal de Bonsucesso fazem uma manifestação na manhã desta terça-feira (3) na entrada principal da unidade. O ato, que contou com um abraço à unidade, é realizado um dia antes da abertura parcial do hospital. Segundo o Ministério da Saúde, os prédios 3, 4, 5 e 6 reabrem nesta quarta-feira.

Os participantes da manifestação contam temerem pelo fim de parte dos atendimentos com a suspensão temporária de parte das especialidades e a transferência de médicos e enfermeiros para outras unidades de saúde.

No momento da manifestação, uma viatura da Polícia Militar chegou com uma grávida passando mal e precisando de atendimento urgente. No entanto, o veículo não passou da porta. Os militares precisaram levar a mulher para outro local.

Há uma semana o almoxarifado do prédio 1 foi consumido pelo fogo. No momento do incêndio, quase 300 pessoas estavam internadas no local, muitas na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e precisaram ser transferidos para outras unidades de saúde. Oito pacientes morreram.

Preocupados, alguns médicos do HFB ligaram ontem, pessoalmente, para seus assistidos e pediram que eles fossem à unidade nesta terça-feira. Houve uma confusão de entendimento entre a nota do Ministério da Saúde e a direção do hospital, já que a abertura de algumas especialidades acontecerá na quarta-feira. Após o entendimento diferente, a direção do hospital decidiu atender os pacientes nesta manhã.

Moradores e representantes de diversas associações do entorno no hospital, boa parte do Complexo da Maré, participaram do ato. A dona de casa Maria Euzete da Costa Pequeno, de 59 anos, moradora da Vila do João, conta que é no HFB que pessoas atingidas por balas perdidas na Maré são socorridas e atendidas.

"Eu vim aqui em solidariedade ao HFB. Aqui é referência e cuida principalmente da minha comunidade. Quando acontece algo lá é para cá que o pessoal vem. Esse hospital tem que ficar aberto", pede a mulher.

Carolina Murga Fonseca, técnica de enfermagem, segurava um cartaz “salvamos vidas” enquanto estava em prantos durante o ato. Ela lembra que, no dia do incêndio, conseguiu salvar vários pacientes que estavam em estado grave. Carolina está no HFB há pouco mais de seis meses.

"É uma vitória muito grande para a gente saber que conseguimos salvar todos esses pacientes que estavam dentro do CTI ( Centro de Tratamento Intensivo ). Todos eles saíram de lá com vida e todos foram salvos com muita dignidade. Além de arriscamos a nossa vida, conseguimos tirá-los de lá. É uma emoção grande e forte. É bom saber que eles estão vivos e bem", pontuou Carolina.

A técnica de enfermagem, terceirizada da RioSaúde, teme que a unidade de saúde feche as portas. "Não queremos que esse hospital feche. Muitos paciente ficarão sem atendimento se fechar. Aqui é referência em várias especialidades", destacou.

Temores pelo futuro da unidade

Às 10h, centenas de funcionários e pacientes do HFB abraçaram o hospital. Na Avenida Brasil os manifestantes recebiam o apoio de motoristas que passavam pelo local e buzinavam. A Polícia Militar fechou uma faixa da via, na pista lateral sentido Centro.

Mônica Armada, presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Rio , afirma que “o receio é que o governo federal entregue o local à iniciativa privada”.

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"O maior medo é que aqui seja entregue para a iniciativa privada ou para uma Organização Social (OS) ficar com a direção. Esse ato é a defesa do hospital. Pedimos a reabertura imediata do hospital com segurança para todos: funcionários e pacientes. Tem prédios que não foram acometidos e dá para funcionar. A transferência de funcionários daqui para outros locais é um risco para o fechamento permanente", disse.

A deputada federal Jandira Feghali (PC do B), que pertence à comissão parlamentar de saúde da Câmara dos Deputados e que já trabalhou no hospital, foi hostilizada ao falar para quem estava no ato. A parlamentar até tentou se prenunciar, mas foi impedida.

A médica residente em oftalmologia Izabela Gomes Costa, que atua no hospital, afirma que muitos dos pacientes que procuram a unidade são de comunidades carentes. Boa parte deles chegam com alguma doença grave nos olhos, como a glaucoma.

"Atendemos a muitas crianças, muitos idosos. Na grande maioria, são pessoas humildes e com doenças que precisam de cirurgias. O funcionamento dessa unidade é importante para o estado", destacou a especialista.

Segundo dados da unidade de saúde, a oftalmologista do local faz 1.842 cirurgias por ano. Além disso, 13.070 consultas são realizadas pela especialidade. Seguranças impediram que médicos entrassem no HFB

Pouco antes das 8h50, vigilantes da empresa de segurança da unidade impediram que médicos da nefrologia e oncologia entrassem no local. Durante pouco mais de 10 minutos houve bate-boca entre os especialistas e os agentes privados de segurança.

Só após a interferência da assessoria de imprensa que os médicos puderam entrar no local.

O que reabre nesta quarta-feira

Os prédios 3, 4, 5 e 6 da unidade serão reabertos. Com isso, será possível voltar com tratamentos, como sessões de quimioterapia, entrega de medicamento, doação de sangue, exames laboratoriais, entre outros.

Já os atendimentos realizados no prédio 1, onde aconteceu o incêndio, estão suspensos. Entre eles, emergência, cirurgias e hemodiálise. O prédio 2 — onde funciona o Centro de Atenção à Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente — passará por avaliação técnica para o retorno dos atendimentos, segundo informações do Ministério da Saúde.

Retomam na quarta-feira, dia 4:

  • consultas ambulatoriais
  • sessões de quimioterapia
  • entrega de medicamentos oncológicos
  • realização de exames laboratoriais
  • retirada de resultados
  • doação de sangue

Seguem suspensos:

  • emergências
  • cirurgias
  • internações
  • hemodiálise
  • exames de imagens

Devem comparecer à unidade no dia e no horário marcados os pacientes agendados a partir de quarta-feira para os atendimentos a serem retomados. Já o público para as especialidades suspensas neste momento pode entrar em contato pelo telefone (21) 3977-9500 para deixar dúvidas e dados para a equipe da unidade retornar com as informações.