Obrigatoriedade de vacina tem apoio de mais de 70% em quatro capitais

Levantamento ouviu eleitores no Rio e em SP, BH e Recife; adesão é menor em pessoas com mais de 60 anos, que integram grupo de risco

Voluntária de ensaio clínico da Sinovac Biotech, em parceria com o Instituto Butantan, é vacinada no Hospital de Clínicas de São Paulo (SP) no último dia 21
Foto: Governo de São Paulo / Divulgação
Voluntária de ensaio clínico da Sinovac Biotech, em parceria com o Instituto Butantan, é vacinada no Hospital de Clínicas de São Paulo (SP) no último dia 21


Uma pesquisa do Instituto Datafolha , encomendada pela TV Globo e pelo jornal Folha de S. Paulo, divulgada no último sábado (10), indica que mais de 70% da população de quatro capitais brasileiras concorda que uma eventual vacina contra a Covid-19 seja obrigatória no país.


O levantamento ouviu 3.092 pessoas no Rio e em São Paulo, Belo Horizonte e Recife e também concluiu que pelo menos 75% delas pretendem se imunizar logo que uma fórmula capaz de bloquear a infecção pelo novo coronavírus estiver disponível no país.

De acordo com o Datafolha, jovens de 16 a 24 anos se mostram mais dispostos a se vacinar do que pessoas com mais de 60 anos, que compõem o grupo de risco da Covid-19. A diferença varia de 6%, no caso de Rio e Belo Horizonte, até 15%, em Recife. São Paulo fica no meio do caminho, com 10%.

O grupo amostral foi dividido em 1.092 eleitores em São Paulo, 900 no Rio, 800 na capital mineira e outros 800 em Recife entre os dias 5 e 6 de outubro. A margem de erro, segundo o instituto de pesquisa, é de 3%.

No geral, a obrigatoriedade da imunização angariou maior suporte por parte dos eleitores do Rio (77%). Em Belo Horizonte, o índice fica logo atrás, com 76%. Recife (73%) e São Paulo (72%) completam a lista. Já a maior disposição para se vacinar foi identififcada em Belo Horizonte: 81% dos eleitores disseram ter a intenção de se imunizar, seguidos de 80% no Rio, 79% em São Paulo e 75% no Recife.

A pesquisa também trabalhou com recortes de gênero, escolaridade e classe social.

Você viu?

Homens e mulheres mostraram disposições distintas de acordo com as capitais. Eleitoras demonstraram maior pretensão para se vacinar em Belo Horizonte: são 83%, frente aos 80% dos eleitores que sinalizaram no mesmo sentido. A diferença está dentro da margem de erro, bem como no Rio e em São Paulo, onde homens formaram maioria a favor da imunização (82% e 81%, respectivamente, frente aos 77% e 71% das mulheres nas duas cidades).

Segundo indicam os números do Datafolha, a disposição em se vacinar contra a Covid-19 é 8% maior entre pessoas com ensino superior completo no Rio em relação aos que cursaram apenas o ensino médio. Já em São Paulo, a mesma estratificação indica que a adesão é 6% menor no primeiro grupo em relação ao segundo.

A abertura quanto a uma eventual imunização é maior entre os mais ricos no Rio, onde 90% dos eleitores com renda familiar acima de 10 salários mínimos pretende se imunizar, consideravelmente acima dos 77% dos eleitores com até dois salários mínimos. A relação é inversa nas outras três capitais: a diferença do primeiro estrato para o segundo é de 8%, 11% e 11% em BH, Recife e São Paulo, respectivamente.

Declarações de Bolsonaro

Em agosto, outra pesquisa do Datafolha indicou que 89% dos brasileiros tinham a intenção de se vacinar contra a Covid-19. O instituto pondera, no entanto, que não é possível comparar os dois levantamentos, uma vez que tiveram amostragens diferentes.

O debate sobre a obrigatoriedade da vacina ganhou força depois que o presidente Jair Bolsonaro declarou que "ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina" em setembro. A afirmação, rebatida por especialistas, ocorreu quando Bolsonaro foi indagado por um apoiador sobre o tema. Posteriormente, a negativa ganhou contornos institucionais quando a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) reproduziu o posicionamento em suas redes sociais.

Dias depois, o próprio presidente dobrou a aposta e voltou a afirmar que nenhum brasileiro seria obrigado a se imunizar. Cientistas, no entanto, ponderam que o assunto deve ser abordado sob a perspectiva da saúde coletiva, e não das liberdades individuais.

A fala de Bolsonaro contraria a lei nº 13.979 , assinada pelo próprio presidente em fevereiro com o objetivo de regulamentar medidas emergenciais contra a Covid-19. O texto prevê a possibilidade de vacinação compulsória pelas autoridades competentes.

A obrigatoriedade , contudo, já é prevista na lei nº 6.259 de 1975, que determinou diretrizes para a vigilância em saúde e o Programa Nacional de Imunização e foi regulamentada pelo decreto 78.231 de 1976. A atribuição da compulsoriedade cabe ao Ministério da Saúde. A pasta afirmou, ainda em setembro, que a imunização, apesar de não obrigatória, "será incentivada".