Idoso de 71 anos canta da varanda de casa para tentar superar morte do filho
Seu Francisco canta músicas que animam e encantam moradores durante a pandemia, na Avenida Portugal em Belford Roxo, na Baixada
Por Agência O Globo |
Quase todos os dias, a música tem endereço certo em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. É da varanda do Seu Francisco que saem as canções que animam e encantam moradores e quem passa pela Avenida Portugal. Por volta das 16h, ele liga a caixa de som, o microfone, se conecta à internet e faz aquilo que mais ama: cantar para a vizinhança.
Há três anos, essa tem sido a rotina do militar reformado Francisco de Assis Marinho, de 71. No repertório eclético, canções que vão de Altemar Dutra a Raça Negra. A música sempre foi uma paixão de Seu Francisco. Ainda adolescente, aos 18 anos, participava de cantorias com os amigos.
"Eu cantava e eles tocavam. Quando era rapaz e ia aos clubes, sempre animava a festa. Cantava e dançava. O que mais gosto é cantar e dançar. E danço muito", ressaltou Seu Francisco , sem falsa modéstia.
O tempo passou e o músico de Belford Roxo continuou cantando, até que um desastre, há 19 anos, mudou completamente sua vida. O filho, então com 15 anos, morreu num trágico acidente. Após o longo luto, foi com a música, há cerca de três anos, que Seu Francisco encontrou novos motivos para voltar a sorrir e, claro, cantar:
Você viu?
"Me sinto muito feliz agradando a todos. Todo mundo para e acena. Homem, mulher, crianças... Tem gente que dança e canta. Algumas mulheres mandam beijos, aí a minha mulher morre de ciúmes. Procuro fazer sempre o meu melhor".
Foi assim que Márcia Coutinho, de 41 anos, conheceu Seu Francisco. Ela trabalha numa clínica ao lado da casa dele, mas foi a música que aproximou os dois: "Na primeira vez que ouvi, fiquei me perguntando quem era. Os pacientes também ficam curiosos quando ouvem. Saio às 18h e, nesse horário, ele já está cantando".
Convite e pedido da vizinhança
A fama no bairro já lhe rendeu convites. No sábado passado, cantou no restaurante de um amigo. O cachê? A alegria da plateia e uma cerveja bem gelada, que ele não descarta. "Sempre animo as festas. Vou até os 90 assim. E dançando bem. Nasci com esse dom", se diverte.
O comerciante Lucas Richard Souza, de 28 anos, disse que o sucesso do Seu Francisco é tanto que já tem até gente na rua fazendo pedidos: "Ele começou tímido, mas depois foi acontecendo".
E o cantor já está aprendendo um instrumento para fazer um show ainda mais completo. "Tenho um violão há muito tempo, mas já estou aprendendo", anuncia o Seu Francisco, que encerra a cantoria por volta das 21h.