Milícia e tráfico se unem em extorsão de camelôs com apoio da guarda municipal

Criminosos movimentam semanalmente entre R$ 60 mil e R$ 90 mil

O estado do Rio de Janeiro chegou hoje (18) a 249.798 casos confirmados acumulados e 17.575 mortes causadas pela Covid-19
Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil
O estado do Rio de Janeiro chegou hoje (18) a 249.798 casos confirmados acumulados e 17.575 mortes causadas pela Covid-19


Um esquema que promove extorsões e a cobrança de taxas para permitir o trabalho de camelôs nas ruas de Madureira, na Zona Norte do Rio, é alvo de uma operação, que foi deflagrada nesta terça-feira, pela Polícia Civil. A exploração do negócio envolve uma espécie de parceria entre milicianos e traficantes , e conta ainda com a participação de policiais, servidores públicos, e até de três guardas municipais.



De acordo com investigações da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), o bando é suspeito de movimentar semanalmente de R$ 60 mil a R$ 90 mi l com cobranças irregulares, como o aluguel de barracas padronizadas. O grupo também estaria por trás do assassinado de Daniel Rodrigues da Paz, o DN.

Principal testemunha da polícia, Daniel foi morto a tiros, no dia 1º de abril de 2020. O crime ocorreu na Zona Norte do Rio, 13 dias após DN prestar seu último depoimento na DRCPIM,quando ajudou a identificar nomes dos integrantes da quadrilha. O assassinato foi flagrado por câmeras de segurança. As imagens mostram, inicialmente, uma homem saindo do banco do carona de um carro logo após assassinar DN, que estava dirigindo o veículo.

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Pouco depois, uma moto com dois homens se aproxima, e um deles ainda dispara mais tiros contra Daniel. Vinte e três pessoas suspeitas de integrar o grupo tiveram as prisões temporárias solicitadas à Justiça, mas o pedido acabou sendo negado pelo Tribunal de Justiça do Rio. Entre os que chegaram a ter a prisão pedida está Genivaldo Pereira das Neves, o Popeye. Ex-ocupante de um cargo na Secretaria estadual de Transportes, de onde foi exonerado em outubro de 2019, ele foi apontado pela testemunha assassinada como suposto chefe do esquema de extorsão aos ambulantes .

Antes de morrer, Daniel detalhou ainda que as cobranças eram feitas em forma do aluguel de barracas. Para ter permissão de trabalhar nas ruas de Madureira, era necessário pagar à milícia entre R$ 150 a R$ 200, por semana , para alugar barracas com armação dourada e com lonas azuis e brancas. O material, segundo as investigações, é guardado diariamente em um depósito por milicianos.

Quem não concordasse com o valor, acabava sendo alvo de fiscalização de três guardas municipais e de uma agente de controle urbano. A abordagem era feita, segundo relatório dos pedidos de prisão, justamente a quem ussasse barracas diferentes das permitidas pelo grupo paramilitar. O esquema contaria ainda com a anuência de Edmílson Gomes Menezes, o Macaquinho, um dos chefes da milícia que atua na Praça Seca, Madureira e Vila Valqueire, e também com a concordância do traficante Walace de Brito Trindade, o Lacoste, que controla o comércio de drogas no Complexo da Serrinha.

De acordo com as investigações da DRCPIM, ele teria autorizado a cobrança de milicianos nas ruas de Madureira. Em troca, teria recebido carta branca da milícia para explorar a realização de bailes em áreas onde milícia e o tráfico atuam em aliança.

Genivaldo Pereira das Neves já respondeu por porte ilegal de armas. Ele foi ouvido na DRCPIM. Disse ser presidente de uma associação de ambulantes e negou ser miliciano ou ter ligações com a milícia.