Caso Padre Robson: Entenda as acusações do Ministério Público
Investigações incluem a compra de imóveis de luxo com dinheiro de fiéis
Por iG Último Segundo |
Um dia, padre famoso , no outro, investigado pelo Ministério Público de Goiás. Esta é a linha do tempo vivida nos últimos dias por padre Robson de Oliveira Pereira, 46. Ele é suspeito de ter desviado mais de R$ 120 milhões que vieram em forma de doação dos fiéis .
Até então responsável pela maior devoção à Santíssima Trindade do mundo, com 3 milhões de participantes anualmente, a Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, ele está afastado das atividades religiosas até o fim das apurações.
O religioso é alvo de uma ação do MP, que investiga a compra de bens e imóveis não ligados à atividade eclesiástica com dinheiro dos devotos . Entre os crimes atribuídos estão: apropriação indébita, falsificação de documentos, sonegação fiscal, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Para se ter uma ideia, o padre teria usado o dinheiro da entidade para comprar uma fazenda que custou R$ 6,3 milhões , em Abadiânia, e uma casa na praia de Guarajub, na Bahia, pelo valor de R$ 3 milhões . "Constatou-se que os gastos de boa parte das doações não tinha vínculo com questões religiosas, mas com outros negócios, como a compra de imóveis, propriedades rurais, cabeças de gado e emissoras de rádio", disse o MP.
As movimentações financeiras da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), responsável por administrar o Santuário Basílica de Trindade, começaram a levantar suspeitas das autoridades . Segundo o MP, a Afipe movimenta cerca de R$ 20 milhões por mês.
Desde 2010, o MP descobriu que o total das movimentações soma mais de R$ 2 bilhões , sendo a maior parte para a construção da nova Basílica, com obras iniciadas em 2012 e que ainda não foi concluída. Primeiramente, o projeto custaria R$ 100 milhões, mas o próprio religioso admitiu que o montante passou de R$ 1,4 bilhão .
Para garantir que esse dinheiro passasse despercebido, eram usados laranjas e empresas de fachada. Conforme o MP, o padre "criou várias associações com nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome, e que, por meio de alterações estatutárias, gradativamente, assumiu o poder absoluto sobre todo o patrimônio das Afipes".
A iniciativa de se descobrir o verdadeiro objetivo das doações começou após padre Robson sofrer, pelo menos, cinco tentativas de extorsão de dinheiro , em 2017, segundo depoimentos dados ao Ministério Público de Goiás e à Polícia Civil. Por causa dessas ocorrências, o religioso gastou um total de R$ 2,9 milhões vindos da Afipe em troca do arquivamento das mídias. No ano passado, cinco pessoas foram condenadas por chantagearem o padre, com penas que variam de 9 a 16 anos.
Ligação íntima
Você viu?
Um desses crimes teria sido cometido por um hacker que teria vivido um relacionamento amoroso com o padre
. Segundo o juiz Ricardo Prata, o hacker invadiu os celulares e e-mails do religioso, tese que foi endossada por testemunhas à época do processo de julgamento.
Um segundo envolvimento romântico foi apontado pelo MP. Testemunhas afirmaram ter tido acesso a uma foto dele com uma mulher e uma conversa relatando situações amorosas. "Ele [Robson] me mostrava [mensagens]. Um dos vídeos, vamos lá, um deles né, parece que era um vídeo gravando a tela de outro celular, onde tinha uma foto do padre com a [mulher] próximos um ao outro, e suposta troca de mensagens amorosas , né?", relatou a pessoa ao MP.
Durante o depoimento ao MP, padre Robson admitiu que fez repasses para silenciar os flagrantes sem o monitoramento da polícia. "São todas insídias muito fortes, causam intimidação e também muita confusão na cabeça. Se eu agi mal em alguma coisa, eu agi de boa-fé colocando as coisas na tentativa de se resolver", disse o padre em trecho do depoimento.
E o Vaticano nesta situação?
De acordo com o delegado Alexandre Pinto Lourenço, superintendente de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP), que apurou parte das denúncias, a Santa Sé tinha ciência do ocorrido e acompanhava tudo de perto.
"Eles narraram que já tinham ciência e que estavam acompanhando as denúncias. Pelo que percebemos, eles tinham um conhecimento avançado da situação. Porém, não nos disseram se havia em curso alguma investigação interna pelo Vaticano", afirmou o delegado.
O que diz o outro lado
A equipe que faz a defesa do padre disse que o religioso está "chateado com acusações, mas tranquilo". Ainda segundo os advogados, todos estão à disposição do Ministério Público e colaborando com as investigações
.
Já sobre os casos de chatagem
, a equipe argumentou que "padre Robson foi vítima de extorsão, tendo buscado suporte da Polícia Civil, que monitorou as transações, e culminou na prisão dos extorsionários. Já houve sentença, e os criminosos foram punidos pelo Judiciário com severidade. Não havia qualquer conteúdo verídico como objeto das ameaças".