Preso com maconha, paulista virou chefe de facção no Rio dentro da cadeia

Conhecido como “Da Leste”, paulista Luciano Iatauro foi preso com 44 quilos de maconha dentro de um ônibus em Barra do Piraí, na região Sul do Rio de Janeiro

Da Leste foi enviado para o Complexo de Gericinó
Foto: Tania Rego / Agencia Brasil
Da Leste foi enviado para o Complexo de Gericinó

O paulista Luciano Iatauro, o Da Leste, foi preso em janeiro de 2018 num ônibus de passageiros em Barra do Piraí, no Sul do Rio. Um cão da Polícia Rodoviária Federal (PRF) acusou a presença de droga numa bagagem, e o motorista apontou que Iatauro era o dono. Na mala, foram encontrados 44 quilos de maconha. Na ocasião, ele afirmou que receberia R$ 2 mil da maior facção do tráfico de São Paulo para transportar a mala até a Rodoviária do Rio. De acordo com a Polícia Federal, em dois anos,  Iatauro ascendeu na hierarquia da quadrilha dentro do Complexo de Gericinó: hoje, ele é o homem forte da facção no Rio.

A investigação que culminou na Operação Expurgo, deflagrada ontem pela PF, revela que Iatauro se tornou o responsável por mediar a logística de fornecimento de drogas e armas da facção paulista para as duas quadrilhas parceiras do grupo no Rio. Ligações interceptadas com autorização da Justiça revelam que o traficante, de dentro da cadeia, fazia transações de cargas de drogas.

“Aqui o espaço que ele tem é grande. Dentro da Maré, aqui em cima, em Volta Redonda. Dali ele distribui, de dentro do Complexo da Maré”, afirmou a um comparsa. Foram flagradas conversas sobre vendas de drogas da facção de São Paulo ao Complexo da Maré, Vila Aliança, Dendê e favelas de Angra dos Reis, todas dominadas por uma facção fluminense aliada ao grupo paulista.

Em outra ligação, Iatauro demonstra interesse em comprar um fuzil: “Aquele AR tá em mãos, mano?”. A operação cumpriu 20 mandados de prisão, sendo 14 de pessoas já presas — como Iatauro, que cumpre a pena de 7 anos a que foi condenado pelo transporte de maconha na Penitenciária Esmeraldino Bandeira. Os outros seis mandados foram cumpridos no Rio, em São Paulo, em Minas Gerais e no Pará, contra integrantes da facção paulista.

Um relatório da investigação revela que, atualmente, a célula da facção paulista no Rio têm 74 membros, sendo que 38 presos e 36 em liberdade. Essa quantidade só foi atingida com o “batismo” de novos membros dentro das cadeias fluminenses. Diversos traficantes cooptados para integrarem o grupo de São Paulo são chefes do tráfico de municípios do interior do Rio, que facilitam o transporte da droga de São Paulo até a capital do Rio. É o caso de outro dos alvos da operação, Zandonaide dos Santos Rodrigues, chefe do tráfico de Barra do Piraí, também preso no Esmeraldino Bandeira.

A PF também detectou a presença de diversos integrantes da facção “bairros adjacentes ao Complexo de Gericinó, com disponibilidade para atendimento de demandas criminosas ou apoio a integrantes da facção presos”.