Flordelis depõe hoje sobre adoção irregular de menina que sumiu da casa dos pais

Adolescente de 17 anos estaria na casa da deputada sem que nunca tivesse entrado com pedido de adoção ou guarda legal

Flordelis irá prestar depoimento hoje sobre adoção de uma de suas filhas.
Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo
Flordelis irá prestar depoimento hoje sobre adoção de uma de suas filhas.

Está marcado para esta segunda-feira o depoimento da  deputada federal Flordelis dos Santos de Souza (PSD) na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Niterói. A parlamentar foi intimada para ser ouvida no inquérito aberto em outubro do ano passado, após o GLOBO ter denunciado que Flordelis mantinha há oito anos a adolescente de 17 em sua casa sem que nunca tivesse entrado com pedido de adoção ou guarda da menina. A Polícia Civil apura como a menina chegou até a casa da deputada.

Como o GLOBO revelou nesse domingo, os pais da garota afirmaram aos investigadores que nunca deram consentimento para que a filha fosse morar com Flordelis e afirmam que a menina havia desaparecido. Os depoimentos de testemunhas revelaram que a menina passou pelas mãos de três pessoas até chegar à deputada.

A polícia já sabe que André Luiz de Oliveira, um dos filhos afetivos de Flordelis, foi o responsável por levar a menina para a casa da família da pastora em outubro de 2011, quando ela tinha 8 anos. Ele admitiu em depoimento à polícia que pegou a criança com Carlos Knust e sua mulher, Claudia. Carlos é gerente-comercial da MK Music, gravadora gospel com a qual Flordelis tem contrato. O casal também confirmou aos agentes que foi o responsável por entregar a garota a André.

Em depoimento, o gerente relatou que uma prima sua, Delcenir Knust, lhe pediu ajuda para fazer contato com Flordelis, pois uma tia da criança, identificada como Cristina, disse que a mãe não tinha condições de cuidar da menina. Carlos contou que pegou a jovem com Delcenir, que por sua vez recebeu a garota de Cristina. A versão de Carlos foi confirmada por Delcenir, que também foi ouvida pela polícia. Ambos também disseram que a garota vivia em condições precárias.

A tia da garota foi identificada pela polícia como Cristina Moreira Santos Souza. A mulher prestou depoimento, mas deu uma versão diferente para a história. Ela alegou que um dia chegou à casa do sogro, também avô paterno da menina, e a criança não estava lá. Cristina afirmou que o homem disse que a garota “estava com uma irmã da igreja e estava bem”. Posteriormente, ela afirma que ficou sabendo que a “irmã” se tratava de Delcenir, com quem nega ter tido contato.

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A versão apresentada pelos pais da adolescente, que prestaram depoimento em fevereiro e março deste ano, é de que a filha desapareceu após ter ido brincar na casa de uma conhecida de seu avô paterno. A mãe da jovem afirma que o combinado era buscá-la depois, mas ao chegar ao local, nem a mulher nem sua filha estavam mais na residência. No depoimento, os pais não disseram o nome dessa primeira mulher que teve contato com a criança, mas as investigações indicam que não seria Flordelis.

A mãe disse que chegou a procurar a filha com o avô paterno, mas não conseguiu encontrá-la. Logo depois, o idoso faleceu. Em seu depoimento à polícia, o pai da adolescente afirmou que não autorizou a ida de sua filha para a casa de Flordelis e que também não autoriza a adoção da menina. A mãe disse que nunca havia “dado” a filha. Após a repercussão do caso divulgado pelo EXTRA, a adolescente voltou a morar com a família biológica.

Flordelis conversou com o GLOBO por telefone na última quarta-feira. A deputada confirmou que a menina, hoje adolescente, voltou a morar com a família biológica e alegou que não sabia que os pais da garota não tinham concordado com a ida dela para sua casa. Questionada sobre a situação irregular da menina por mais de oito anos, a deputada insistiu em dizer que havia dado entrada no pedido de guarda da menina. No entanto, ao ser confrontada com a informação de que não há nenhum processo em relação à garota, disse que se confundiu:

"Em 2014, dei entrada nos papéis no Conselho Tutelar para que ela pudesse estudar e achei que isso já se tratava do processo de guarda. Me confundi. Foram muitos processos (de adoção) naquela época".