MP desmente Crivella sobre cartão cesta básica ser usado "para comprar cachaça"
Na quinta (25), prefeito do Rio disse que auxílio municipal para famílias de alunos da rede pública de ensino havia sido suspenso por ordem do órgão
Por Agência O Globo |
Em vídeo gravado na última quinta-feira (25) durante um evento em Madureira, na Zona Norte, exibido pelo RJ2, da TV Globo, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, ao ser questionado sobre a mãe de alunos de uma escola municipal sobre a descontinuidade do cartão cesta básica — auxílio no valor de R$ 100 oferecido pelo município às famílias dos alunos durante o período da pandemia de Covid-19, em que as unidades estão sem aulas presenciais — afirma que o benefício foi suspenso a mando do Ministério Público do Rio, porque usuários estariam utilizando-o "para comprar cigarro e cachaça". Neste sábado (27), o MP desmentiu a versão dada pelo prefeito.
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"O cartão ainda vai recarregar? Porque eu tenho três filhos numa escola, e só recarregou R$ 100", indagou uma mãe, durante o evento, a Crivella .
O prefeito, então, respondeu:
Você viu?
"O cartão nós tivemos um problema, porque tinha muita gente usando para comprar cachaça e cigarro . Então, o que aconteceu foi o seguinte: o MP proibiu o cartão", afirmou Crivella.
O Ministério Público do Rio, no entanto, desmentiu a afirmação. Numa recomendação e em ação civil pública ajuizados pelo MPRJ, promotores afirmam que apenas sugerem que a prefeitura se abstenha de utilizar recursos vinculados à Educação para aquisição de cestas básicas ou kits de gêneros alimentícios para financiar os cartões alimentação entregues aos alunos da rede municipal, mas em nenhum momento os documentos proibem o cartão cesta básica ou citam itens — como cigarro ou cachaça.
"O Grupo de Atuação Especializada em Educação (GAEDUC/MPRJ) esclarece que não tem conhecimento sobre a expedição de recomendação ou do ajuizamento de ação requerendo a proibição da distribuição ou da recarga dos cartões alimentação entregues a famílias de alunos da rede municipal pública de ensino", afirma em nota.
"Em relação ao tema, o GAEDUC/MPRJ expediu uma recomendação e ajuizou uma ação civil pública para que o Município do Rio de Janeiro se abstenha de utilizar os recursos vinculados à educação para a aquisição de cestas básicas ou kits de gêneros alimentícios ou para financiar os cartões alimentação entregues aos alunos da rede municipal de ensino e seus responsáveis como modalidade de oferta alimentar (cestas básicas, cartão alimentação ou similar), haja vista que as despesas com alimentação escolar não são consideradas manutenção e desenvolvimento do ensino, nos termos do art. 71, IV da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional", concluiu o órgão.
O GLOBO questionou a prefeitura sobre o conteúdo do vídeo e à reção do Ministério Públcio do Rio, mas o município ainda não retornou à reportagem. Crivella, no fim da gravação, também afirma à mulher que o abordou que "se Deus quiser" a partir desta segunda-feira (29) a prefeitura passará a prover uma cesta básica por criança da família na rede municipal. A reportagem também aguarda confirmação sobre a iniciativa.