São Paulo reduz 9% da frota de ônibus após queda motivada pela pandemia
SPTrans afirmou que, apesar da redução, nenhuma linha será extinta; segundo estudo desenvolvido pela USP, redução de frotas aumenta exposição de moradores da periferia à Covid-19
Por iG Último Segundo | com informações da Agència Brasil |
A partir dessa quinta-feira (25), a frota de ônibus da capital paulista será reduzida em 8,39% por conta da redução de passageiros motivada pela pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2).
A diminuição será feita nas linhas com oferta superior à demanda existente. Antes da pandemia, os ônibus municipais transportavam 3,3 milhões de passageiros diariamente, porém esse número caiu para 1,3 milhão de pessoas e tem se mantido estável nas últimas semanas.
A Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo afirmou que vai priorizar o atendimento em bairros mais afastados do centro, onde a concentração de casos de Covid-19 é maior. Segundo a pasta, nenhuma linha será extinta.
A decisão foi tomada levando-se em conta os índices de lotação de veículos, a estabilidade da demanda de passageiros, que não acompanhou o crescimento da frota, e a sustentabilidade do sistema municipal de transportes.
A SPTrans afirma que seguirá monitorando a demanda de passageiros e a oferta para quando houver necessidade.
Moradores da periferia mais expostos à Covid-19
Estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) mostra que as alterações feitas no transporte coletivo por ônibus na capital paulista, durante a pandemia de covid-19, expôs mais à doença as pessoas moradoras da periferia da cidade.
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Em março, pontapé inicial da quarentena na capita paulista, a prefeitura autorizou gradativamente a redução da frota de ônibus por conta da diminuição de passageiros. Com a reabertura ao público, nas últimas semanas, de parte dos setores da economia, como shoppings e escritórios, a administração municipal voltou a elevar a presença dos ônibus nas ruas.
No entanto, de acordo com a pesquisa, a redução do número de ônibus nas linhas que atendiam as regiões mais distantes do centro da cidade foi maior do que, proporcionalmente, a registrada na região central. Dessa forma, apesar da diminuição da demanda, os ônibus que circulavam na periferia permaneceram com elevada concentração de passageiros, expondo mais seus usuários ao vírus.
Segundo o estudo, as linhas da região central tiveram redução de 68% de passageiros, e de 61,3% na quantidade de ônibus. Já na região leste, a demanda reduziu 63,6% e a oferta de ônibus, 61,6%. Na região sul, a demanda caiu 62,3%, e a oferta, 60,7%; na norte, a demanda caiu 59,8%, e a oferta, 55,5%; e na oeste, a demanda caiu 51,7%, e a oferta, 48,9%. Ou seja, a folga criada pela redução da oferta de ônibus foi maior no centro do que na periferia.
“Como resultado, nas regiões mais afastadas, a lotação dos ônibus se mantém muito próxima dos já altos níveis observados antes da pandemia, o que contribui para a disseminação do vírus e aumenta as desigualdades entre as regiões e populações”, diz o texto da pesquisa.
O estudo foi coordenado por Mariana Giannotti, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM-Cepid/Fapesp) e professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), e teve participação dos pesquisadores Tainá Bittencourt e Pedro Logiodice, ambos da Poli-USP e do CEM.
“Além de não reduzirem as taxas de lotação observadas nos anos anteriores, no sentido de diminuir a exposição e contaminação nos trajetos, [as mudanças] geraram muitas vezes condições ainda piores do que antes da pandemia”, destacam os cientistas.