Toffoli afirma que Forças Armadas não são "poder moderador"

Em conversa com parlamentares, presidente do STF refutou interpretação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro sobre artigo da Constituição

Presidente do STF, ministro Dias Toffoli
Foto: Agência Brasil
Presidente do STF, ministro Dias Toffoli

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, disse nesta terça-feira (9), em videoconferência com parlamentares de oposição, que o artigo 142 da Constituição não autoriza as Forças Armadas a atuar como um "poder moderador". Desde que Jair Bolsonaro intensificou os ataques a ministro da Corte , apoiadores do presidente argumentam que o trecho da Carta poderia justificar uma intervenção militar contra outros poderes.

"Não há lugar para quarto poder, para artigo 142 da Constituição. Forças Armadas sabem muito bem que o artigo 142 não lhes dá (prerrogativa) de poder moderador. Tenho certeza de que as Forças Armadas são instituições de estado, que servem o povo brasileiro, não são instituições de governo", disse Toffoli.

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Toffoli falou mais de uma vez sobre o assunto com parlamentares. A reunião foi marcada para que deputados e senadores pudessem prestar solidariedade ao Supremo. O trecho da Constituição em questão diz que as Forças Armadas, “sob a autoridade suprema do Presidente da República”, “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

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Durante a transmissão pela internet, o líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (REDE-AP), leu um manifesto que condena as manifestações recentes de Bolsonaro.

"Fomos realizaram ato de solidariedade ao Supremo e ao Judiciário, em defesa da democracia. Na fala dele, Toffoli agradeceu a nossa manifestação e reafirmou a independência dos poderes. Ele refutou veemente qualquer interpretação do artigo 142 que não seja nos termos da lealdade das Forças Armadas à Constituição", disse Randolfe.

No manifesto, os oposicionistas dizem ter compromisso com a Constituição, o "zelo pela manutenção das liberdades democráticas, da liberdade de expressão e que não contemplam discursos de ódio e flertes autoritários", e a "entrega total à luta pelos direitos fundamentais de todos os brasileiros".

Na semana passada, o ministro Gilmar Mendes já havia dito que o possível uso do artigo 142 para uma intervenção "é uma tese de lunático ".

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também se manifestou sobre o assunto ao endossar conclusão de parecer técnico da Casa. A Câmara considera ilegal o uso do trecho da Constituição para qualquer intervenção em outro poder. Seria, segundo o parecer, uma "violência institucional".

No domingo, reportagem publicada pelo GLOBO mostrou que o trecho da Carta não foi redigido para permitir qualquer ação das Forças Armadas contra Legislativo e Judiciário. O artigo, segundo deputados constituintes, nunca teve esse alcance. Levantamento feito em notas taquigráficas da Constituinte e no noticiário de 1987, quando o artigo foi elaborado, além de relatos dos próprios parlamentares, revela que houve atritos com as Forças Armadas sobre qual seria seu papel. Mas nunca a intenção de transformar os militares em “poder moderador”.