“R$ 5 mil por morto”: PCC ameaça policiais no Agreste de Pernambuco
Há mais de um ano, policiais e agentes das cidades pernambucanas de Surubim e Casinhas são ameaçados pelo PCC. Duas mortes já foram registradas
Por Lorena Barros |
Longe de São Paulo, a megalópole na qual foi fundado, o Primeiro Comando da Capital (PCC) alimenta células pelo país. Uma delas, segundo agentes da segurança pública de Pernambuco, está localizada em Surubim, município com pouco mais de 60 mil habitantes no Agreste do estado.
Apesar de relatos de casas baleadas e muros pichados com a sigla da organização criminosa datarem do ano de 2015, as ameaças e perseguições teriam se intensificado em julho de 2019.
“Os policiais estão amedrontados porque está tendo oferta de dinheiro, R$ 5 mil por cada policial morto”, afirma o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco, Áureo Cisneiros.
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A localização privilegiada da região para tráfico de drogas, roubo de cargas e outros tipos de crimes pode ser o motivo da escolha da cidade. “A gente inclusive vem advertindo a chefia da Polícia Civil sobre isso. Não pode deixar isso prosperar naquela região, porque se instala naquela região e vai se espalhando para o resto do estado”, explica o presidente do Sinpol.
Com as ameaças e perseguições, parte dos policiais das delegacias das duas cidades pediu remoção para outros municípios de Pernambuco e alguns pediram por proteção especial
. Um deles, José Rogério Duarte Batista, foi assassinado poucos dias após o pedido de segurança, em uma espécie de “tragédia anunciada”.
A execução de José Rogério, feita no último sábado (30) a tiros de fuzil por homens em uma caminhonete em plena luz do dia, diante de câmeras de segurança de um supermercado e em uma via movimentada de Surubim, não foi a primeira.
Em setembro de 2019, o policial militar aposentado Carlos Alberto Santos de Sousa, de 55 anos, também foi assassinado a tiros de fuzil na cidade de Casinhas . Nenhum dos dois crimes tiveram autorias elucidadas até o momento.
A morte de José rogério é investigada com auxílio do Departamento de Repressão ao Crime Organizado.
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Investigação desencorajada
Pouco após a morte de Rogério, um clima de silenciamento tomou conta da cidade. Em grupos do WhatsApp, montagens com a foto de um policial morto e do agente executado ainda em vida ilustravam o texto: “PCC 1 x 0 PCPE” (em referência à sigla da Polícia Civil de Pernambuco)”.
Mobilizados pelo assassinato de Rogério, mais de 200 policiais do estado seguiram até a cidade em busca dos possíveis autores da execução, gravada por uma câmera de segurança.
Segundo uma fonte de dentro da Polícia Civil que não quis se identificar, porém, um diretor policial da região não permitiu que a operação fosse realizada e mandou que todos voltassem para casa.
Segundo o Simpol, uma reunião com o chefe da Polícia Civil, Nehemias Falcão e com policiais das duas cidades foi realizada nesta quarta-feira (3). Nela, o representante teria prometido aumentar o efetivo policial da região e aumentar esforços para solucionar os crimes.
“Ele foi muito solicito e garantiu que está trabalhando para inclusive banir essa célula do PCC de lá”, afirma Áureo. Questionado pela reportagerm sobre as investigações e a proibição da operação policial voluntária, porém, o governo do estado de Pernambuco não se posicionou.
Resposta da polícia
Por meio de nota, a Polícia Civil de Pernambuco afirmou que “medidas administrativas cabíveis” estão sendo tomadas em relação aos efetivos policiais dos municípios de Casinhas e Surubim".
Sobre as investigações das mortes dos dois policiais e as investigações envolvendo o crime organizado na região, o órgão respondeu que “pela natureza dos eventos verificados nos referidos municípios, não comentará sobre as investigações policiais em andamento”. A Polícia Militar e a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco não responderam às perguntas.