"Não vou me calar nunca", diz primo de João Pedro, morto em operação policial
Daniel Blaz, de 17 anos, fez uma série de publicações no Twitter que chegou a pessoas famosas que também manifestaram revolta pelo ocorrido no RJ
Por Agência O Globo |
Foram 17 horas de angústia até os pais de João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, descobrirem o paradeiro do filho, que havia sido atingido por um disparo durante operação no Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. O adolescente estava no Instituto Médico Legal (IML) daquele município. A morte dele gerou comoção nacional. Desde a noite de segunda-feira, o primo dele Daniel Blaz, de 21 anos, clamava por informações no Twitter, pedindo ajuda desesperadamente por qualquer dado sobre a localização de João.
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O post repercutiu, gerando milhares de compartilhamentos. Diante do desfecho da história, usuários do Twitter, incluindo personalidades do meio artístico e da política, se manifestam, repudiando a morte do adolescente, que estava em casa, na companhia de parentes.
O nome João Pedro permanece nos assuntos mais comentados do microblog na noite desta quarta-feira, com mais de 510 mil menções. Também são usadas hashtags como #JoãoPedroPresente, #JusticaParaJoãoPedro e #VidasNegrasImportam.
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A publicação abaixo refere-se à adaptação cinematográfica do livro "O ódio que você semeia", que aborda a violência policial contra negros nos Estados Unidos, publicado em 2017 por Angie Thomas.
"Quando as horas foram passando e nada de achar ele em nenhum hospital, ninguém da polícia sabia informar nada. Foi desesperador", disse o primo da vítima, autor das postagens que viralizaram.
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'Única maneira que eu encontrei de ter voz'
Daniel contou que viu na internet a oportunidade de, enfim, ser ouvido diante daquela situação desesperadora, após tantos pedidos por informações depois que o menino fora socorrido de helicóptero da Polícia Civil, deixando a família sem saber sobre o que aconteceria em seguida.
Você viu?
"Então eu não vou me calar nunca. Estou um pouco assustado com toda essa repercussão que eu causei, mas foi a única maneira que eu encontrei de ter voz. Sim, com certeza, acredito muito no poder que a internet tem, mas infelizmente muitas vezes, ela é usada para o mal", acrescentou o rapaz.
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O caso de João Pedro também jogou luz a outra história registrada no mesmo dia, mas em Acari, na Zona Norte do Rio. Nas redes sociais, repercutem ao mesmo tempo publicações que lamentam a morte do jovem Iago César Gonzaga, de 21 anos, que também teria sido morto durante uma operação policial.
Hoje, João Pedro, 14 anos, está sendo enterrado dpois de ser assassinado pela polícia enquanto brincava em casa. Iago, também um jovem negro de favela, foi morto ontem em Acari
— Instituto Marielle Franco (@inst_marielle) May 19, 2020
Até quando seremos o país onde pessoas negras não tem o direito de viver?
Arte: @odouglasjg pic.twitter.com/vsKQ7TZ13J
O Instituto Marielle Franco foi um dos perfis no Twitter a homenagearem ambas as vítimas. Alguns dos posts trouxeram desenhos feitos como tributo aos jovens mortos, tendo sido publicados por seus próprios artistas e replicados por diversos usuários do microblog.
Veja, abaixo, a publicação do primo de João Pedro denunciando o desaparecimento dele:
GENTE PELO AMOR DE DEUS ME AJUDEM
— SOMOS TODOS JOAO PEDRO (@_danblaz) May 19, 2020
ESSE É O MEU PRIMO JOÃO PEDRO MATOS PINTO TEM 14 ANOS E ESTAVA HOJE POR VOLTA DAS 16h EM CASA NA (PRAIA DA LUZ) SÃO GONÇALO RJ EM UMA OPERAÇÃO DA POLÍCIA OS TRAFICANTES ENTRARAM NA CASA E OS POLÍCIAS SAÍRAM ATIRANDO E ATINGIU ELE NA BARRIGA pic.twitter.com/qklRuGFGSa