“Não é simples, mas aceitaria”, diz Nise Yamaguchi sobre convite para Saúde
Em entrevista concedida hoje, a oncologista Nise Yamagushi afirma que aceitaria ser ministra e defende cloroquina e relaxamento de isolamento social
Por iG Último Segundo |
Nesta segunda-feira, 18, a oncologista Nise Yamaguchi concedeu entrevista ao UOL sobre sua visão sobre a cloroquina. Ela voltou a afirmar que o medicamento pode tratar a Covid-19 , doença transmitida pelo novo coronavírus , e atacou estudos que classificaram-no como tóxico.
Nise é um dos nomes mais cotados para substituir Nelson Teich, que pediu demissão da pasta da Saúde na última semana . Se convidada, ela afirmou que aceitaria comandar o ministério.
"Não é simples, mas aceitaria, sim. Não é um desafio que depende da minha pessoa, mas um chamamento de uma sociedade", justificou. “Assumir o ministério não depende de mim. Precisa de uma composição de forças no Planalto. Meu papel é apaziguar o povo de onde eu estiver", continuou.
Nise afirmou que é amiga de Teich há muitos anos e que ele optou pedir demissão por “questões pessoais”. No entanto, acredita-se que o ministro se sentiu pressionado pois não queria facilitar o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de Covid-19, tampouco relaxar as medidas restritivas e de isolamento social.
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Na entrevista concedida hoje, a oncologista chegou a adotar um tom brando ao se referir a Jair Bolsonaro (sem partido) e evitou conflitos. Sendo assim, não comentou, por exemplo, sobre o incentivo a aglomerações por parte do presidente. Mas disse que falta “linguagem em comum”, crítica similar a que foi feita pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) antes de sua demissão.
“As informações não são transversais, não estão trabalhadas a nível de integração. Meu papel é de harmonização", disse, esquivando-se novamente de Bolsonaro
Cloroquina x hidroxicloroquina
A oncologista ressaltou acreditar na medicina baseada em evidência. "Tenho uma vida bastante consolidada, trabalho em Lyon, trabalhei na associação de oncologia dos EUA”, justificou. “Não precisaria estar me expondo como estou me expondo se não achasse que pudesse salvar vidas.”
Nise explica que a hidroxicloroquina é considerado mais seguro e com menores efeitos colaterais, se colocado lado a lado à cloroquina. Ela afirma, ainda, que o remédio utilizado em doses pequenas pode tornar o tratamento eficaz e seguro.
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A oncologista introduziu ao assunto os testes realizados no Amazonas com cloroquina, que provaram que o medicamento era capaz de levar o paciente ao óbito.
“[O estudo] mostrou que a cloroquina matava, que dava arritmia. A cloroquina em doses altas a gente sabe que mata, nem precisa desses estudos porque já está na bula que matava”, disse. Na pesquisa, 22 pacientes faleceram. "É uma tristeza porque o Brasil não deveria fazer um papelão desses", comentou.
Nise falou também do estudo dos veteranos, considerando-o “pobre baseado na evidência”. “O grupo que tomou era o grupo mais grave e o que não tomou era menos grave e aí eles disseram que os que morreram foi porque tomaram hidroxicloroquina não porque estava mais grave", explicou. Segundo ela, ambos os estudos são irresponsáveis.
Por outro lado, citou a pesquisa da New England Journal of Medicine. Ao mesmo tempo que o periódico informa que a hidroxicloroquina não é tóxica, também explica que é ineficaz no tratamento da Covid-19. O teste foi feito em 1.300 pacientes.
O Journal of the American Medical Association (JAMA) destacou o mesmo, acrescentando possíveis problemas de coração se o medicamento for utilizado. Até o momento, não há evidências científicas de que esse medicamento é eficaz.
Nise também comentou relatório divulgado pela Prevent Sênior sobre casos recuperados. "Existe aí uma diferença do que é uma conduta e do que pode servir. Estudos são avaliações retrospectivas de análise e não mostraram aumento de toxicidade", afirmou.
A médica reconheceu que o número de mortes por Covid-19 no Brasil é grande, mas afirmou que “pouca gente” está “querendo tratar”. "Vários médicos estão tomando hidroxicloroquina. A gente precisa considerar que o fato de você ter a oportunidade de trazer o paciente para uma situação menos grave", afirmou, citando como exemplo o infectologista David Uip, que foi infectado e teria usado o medicamento em seu tratamento.
Nise e Bolsonaro
Apesar do alinhamento ao discurso do presidente em relação à cloroquina, Nise afirmou que seu posicionamento é o mesmo de sempre. "Minha questão não é parecida com a do Bolsonaro. Minha posição é anterior a ele. Ele também tem opinião baseada em estudos”, disse.
Ela diz que não tem qualquer envolvimento com a formação de opinião de Bolsonaro, mas sim por meio de “conversas que ele teve com setores que tratam disso”. Ao afirmar que ele recebeu “estudos importantes”, Nise não informa quais.
Medidas restritivas
Nise e Bolsonaro também partilham opiniões sobre a flexibilização do isolamento social . Ela questionou a necessidade de ter praias e parques fechados, já que se pode manter distanciamento de 2 metros de distância por pessoa. Segundo Nise, os impactos são “aumentou suicídio, violência doméstica, depressão”.
“Uma pessoa sozinha jamais conseguiria resolver. Não é só cloroquina, é muito mais que isso", afirmou Nise.