Covid-19: Brasil tem número de enfermeiros mortos maior do que Itália e Espanha

Comitê do Conselho Federal de Enfermagem informou ao menos 75 mortes no país; além disso, há 10,4 mil em quarentena e 219 internados

Enfermeira cuida de paciente com suspeita de coronavírus em hospital municipal de Miguel Pereira (RJ)
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Enfermeira cuida de paciente com suspeita de coronavírus em hospital municipal de Miguel Pereira (RJ)

Um boletim divulgado esta semana pelo Comitê Gestor de Crises do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) informou que 75 enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem morreram devido à Covid-19. Trata-se de um registro maior do que a soma dos casos vistos entre os profissionais da área na Itália (35) e na Espanha (quatro), que estão entre os países mais acometidos pelo coronavírus.

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De acordo com o Cofen, 10,4 mil profissionais de enfermagem estão em quarentena e 219 estão internados.

"Há muitos profissionais de enfermagem com mais de 60 anos que permanecem na linha de frente do atendimento aos pacientes. Não deveriam estar ali, porque fazem parte do grupo de risco. Uma em cada cinco mortes que registramos está entre pessoas dessa faixa etária", afirma Manoel Neri, presidente do Cofen.

Neri acrescenta que a "grande maioria" dos profissionais com mais de 30 anos afastados apresenta comorbidades como obesidade, diabetes e hipertensão.

Profissionais de saúde relatam que sofrem represália ao pedir sua retirada do atendimento a casos de Covid-19 . Uma liminar obtida na última segunda-feira pelo Cofen na Justiça Federal determinou o direito a “afastamento voluntário dos profissionais de saúde lotados no  SUS  que estão no grupo de risco”, podendo ser remanejados para outras atividades.

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Neri destaca que muitos profissionais não foram treinados sobre como devem usar os equipamentos de proteção individual e que mesmo aqueles que desenvolvem formas leves da doença precisam se afastar do trabalho por 14 dias — tempo suficiente para comprometer o atendimento a novos pacientes.

A técnica de enfermagem Iraildes Vieira, de 49 anos, sabe como se vestir adequadamente para evitar o contágio por coronavírus . No entanto, não teve as condições necessárias para seu trabalho. Após seguidos protestos, ela foi demitida ontem pela fundação que administra a unidade de pronto atendimento onde trabalhava, em Cotia, no interior de São Paulo.

"Houve uma época em que nós, funcionários, comprávamos touca e máscara de pano pela internet. Depois a empresa deu o material adequado, mas começou a exigir que nós lavássemos para reutilizar por até uma semana. Não é para ser assim, ele deve ser logo descartado. Eu trabalhava em um ambiente fechado, cuidava de medicação, fazia curativo. Poderia contrair o vírus a qualquer hora. Três colegas da unidade já foram infectadas", protesta.

Alerta global

De acordo com o Conselho Internacional de Enfermagem (ICN), pelo menos 90 mil profissionais da área contraíram o novo coronavírus no mundo. O dado consta em um boletim divulgado ontem, que alerta, no entanto, que as estatísticas estão subnotificadas e que os números globais podem ter ultrapassado a marca de 200 mil infectados , devido à falta de equipamentos de proteção individual.

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O ICN registrou a morte de 260 profissionais de enfermagem — um número que a própria entidade reconhece que não corresponde à realidade.

"É um escândalo que governos não estejam coletando e reportando sistematicamente esses dados. Nos parece que eles estão ignorando esses números, o que é completamente inaceitável e custará mais vidas", lamenta Howard Catton, diretor-executivo da ICN.