Pandemia do novo coronavírus vem gerando caos na saúde de diversos estados brasileiros
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Pandemia do novo coronavírus vem gerando caos na saúde de diversos estados brasileiros

Apesar do Ministério da Saúde ter declarado que os profissionais de saúde são os grupos prioritários na realização de testes durante a pandemia do novo coronavírus, a recomendação não está sendo respeitada nos hospitais brasileiros. Um levantamento feito pela empresa TM Jobs, junto às instituições de saúde, mostra que 32% das unidades não realizam exames para os funcionários com sintomas da Covid-19.

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Realizado na primeira quinzena de abril, com a parceria de 150 hospitais do país, o estudo destaca que 32% das instituições de saúde não oferecem atendimento aos colaboradores com necessidade de internação no próprio hospital, independente da cobertura do convênio médico. Além disso, 79% dos estabelecimentos não oferecem benefícios aos profissionais na linha de frente do combate à Covid-19 , como férias, banco de horas, treinamentos específicos, apoio humanitário, interação para preservar a saúde mental e incremento de salário.

"O resultado do levantamento é preocupante. Esses testes além de protegerem as equipes médicas também asseguram a saúde do paciente, evitando que um médico contaminado e assintomático os contamine", explica Tania Machado, presidente da TM Jobs.

A enfermeira Líbia Bellusci, de 36 anos, relata que a Unidade de Pronto Atendimento ( UPA ) da Penha, parte do complexo do Hospital Estadual Getúlio Vargas, está sem testes desde o início da pandemia: "em meados de abril, apresentei os primeiros sintomas da Covid-19 como dor no corpo, falta de ar e febre, mas precisei testar na UFRJ. Fiquei pelo menos 3 horas na fila em pé e cheia dores com inúmeros outros colegas. Mas era a única forma de defender a minha família, pois moro com minha mãe idosa, de 61 anos, e meu filho, de 4 anos".

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Lídia conta que ficou afastada por 14 dias. Quando retornou, não testou no hospital para saber se estava sem a Covid-19: "não sei se voltei a trabalhar sem a doença, pois o hospital só está testando quem está internado. Além da saúde física que ficou abalada, o que restou foi o medo. Vi colegas graves, até indo a óbito. Os equipamentos de proteção individual (EPIs) também estão racionados, é uma vulnerabilidade que gera pânico".

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A enfermeira Nutta, funcionária do Hospital Lourenço Jorge e que teve o nome modificado por questões de segurança, conta que faltam testes para os profissionais da unidade. Segundo a profissional, sua rotina é de medo.

"É lamentável não ter testes para quem trabalha na linha de frente contra a pandemia. Muitos profissionais estão se contaminando, outros vão a óbito. Além disso, falta máscara e equipamento de limpeza básico. Tirando que os funcionários da noite não têm onde descansar, as beliches ficam em um quarto minúsculo e sem ventilação. Fizemos até uma arrecadação para comprar EPI’s", admite.

Vice-presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Robson Freitas de Moura explica por que a falta de testes para os profissionais da saúde representa um perigo.

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"Quando falta um equipamento ou teste para um profissional de saúde, todo mundo fica exposto. A testagem é fundamental, pois, com ela, a prevenção é feita para quem trabalha no atendimento médico e para os pacientes. É importante que as instituições tenham uma atitude de acolhimento, principalmente nesse momento em que a saúde física e mental está abalada", orienta.

Procurado pelo Globo, o Ministério da Saúde esclareceu em nota que acompanha de perto a situação do coronavírus em todo o país e tem atuado em conjunto com as secretarias estaduais de saúde para apoiar as ações de enfrentamento à doença. A pasta destaca que, como determina a constituição, a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é tripartite e funciona com a articulação das ações entre Governo Federal, Estados e Municípios. Sendo assim, cada esfera tem autonomia para tomar decisões que estão sob a sua gestão.

O Ministério orienta que os testes rápidos sejam realizados, prioritariamente, em pessoas com quadro de síndrome gripal e que façam parte do grupo de profissionais dos serviços de saúde de todo o país, além de agentes de segurança como policiais, bombeiros e guardas civis. Assim, no caso dos profissionais de saúde, após um período de isolamento e completa ausência de sintomas, poderão voltar mais rápido ao serviço e atuar com segurança no atendimento da população.


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