Cloroquina foi liberada para colocar "ponto final" em polarização

Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Luiz de Britto Ribeiro, reconheceu que autorização para uso da droga não seguiu ciência

Eficácia da cloroquina precisa de comprovação médica
Foto: Luiz Silveira/Agência CNJ
Eficácia da cloroquina precisa de comprovação médica

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Luiz de Britto Ribeiro, disse nesta quinta-feira (23) que o uso da cloroquina para tratamento de casos leves da Covid-19 foi liberado para colocar um "ponto final" na polarização acerca do tema. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo , o médico reconheceu que a decisão foi tomada sem seguir a ciência.

"Neste caso, como não temos nada e doença é devastadora. Decidimos liberar o uso da droga. Mas não recomendar. Liberar nessa situação em que o médico conversa com paciente. E a decisão é compartilhada", afirmou Ribeiro.

O posicionamento da entidade foi anunciado hoje mais cedo depois de uma reunião de Ribeiro com o presidente Jair Bolsonaro, que tem apostado na substância como forma de combate ao novo coronavírus junto com o isolamento, que é quando somente os grupos de risco devem permanecer em casa.

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Segundo o presidente do órgão, o CFM escolheu levar o tema primeiro a Bolsonaro porque o governo federal havia pedido este posicionamento. Ele afirma que a decisão não foi política, ainda que contrarie a posição de sociedades científicas do Brasil, de outros países e autoridades internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Com a decisão da entidade, médicos serão livrados de infração ética ao prescreverem a cloroquina em três situações. A primeira é para casos de paciente com sintomas leves, em início de quadro clínico, em que tenham sido descartadas outras viroses e exista diagnóstico confirmado de Covid-19.

A segunda situação é para pessoas que, segundo o órgão, têm "sintomas importantes", mas que ainda não está sob cuidados intensivos ou internadas. Ja no último cenário possível, o paciente pode receber a droga se estiver em estado crítico e recebendo cuidados intensivos, incluindo ventilação mecânica.

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Apesar da flexibilização, o documento do CFM ressalta que é "difícil imaginar que em pacientes com lesão pulmonar grave estabelecida e, na maioria das vezes, com resposta inflamatória sistêmica e outras insuficiências orgânicas, a hidroxicloroquina ou a cloroquina possam ter um efeito clinicamente importante". Isso significa que o medicamento pode ter efeitos colaterais.