Nem e Rogério 157, protagonistas de guerra na Rocinha em 2017, são condenados
As penas de Antônio Francisco Bonfim Lopes (Nem) e Avelino da Silva (Rogério 157) são, respectivamente, de 15 e 37 anos e seis meses
Por Agência O Globo | | Agência O Globo - |
Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem , e Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157 , foram condenados pela Justiça, nesta terça-feira, a 15 e 37 anos e seis meses, respectivamente, de prisão. Ambos foram os protagonistas de uma guerra na Rocinha , em São Conrado, iniciada em 17 de setembro de 2017. Nem, que na época da invasão da favela já estava preso no Presídio Federal de Porto Velho, foi condenado por associação ao tráfico. Já Rogério 157, além deste crime, terá de cumprir pena por tráfico de drogas, pois era o chefe da quadrilha que dominava o morro naquele período.
Em sua sentença, a juíza da 19ª Vara Criminal, Tula Corrêa de Mello, decidiu também condenar Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, por 15 anos de prisão, e mais 10 traficantes. Os réus integravam o bando de Nem e de Rogério 157. Celsinho da Vila Vintém, segundo as investigações, prestou apoio à quadrilha de Nem ao ceder bandidos para a invasão da comunidade, segundo o delegado Antônio Ricardo Nunes, encarregado do caso na época, época quando estava à frente da 11ª DP (Rocinha). Todos já estão presos desde 2017.
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De acordo com o processo, Nem ordenou a invasão da Rocinha, depois que três pessoas de sua confiança foram assassinadas e outros cúmplices expulsos da favela. A ordem do traficante era para que Rogério 157, que lhe sucedeu no posto de chefe do tráfico, deixasse a favela. Ele, por sua vez, resolveu se aliar a facção rival a de Nem e brigar pelo domínio do morro, desencadeando uma guerra que deixou moradores acuados em suas casas.
Em sua defesa, Nem negou envolvimento, alegando que havia mais de onze dias que não recebia visita no presídio na época dos fatos, e que não conhecia as pessoas que invadiram a Rocinha. Disse ainda que chegou a ser um dos chefes do tráfico na Rocinha mas que, depois de ter sido preso, deixou de ser traficante. Assegurou ainda que desconhecia quem mandava na comunidade. O rival dele optou pelo silêncio durante todo o processo, de acordo com a sentença.
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Ao analisar a conduta dos acusados, a juíza entendeu não haver dúvidas de que Nem "arregimentou aliados a fim de realizar audaciosa empreitada criminosa, na tentativa de retomar o controle do tráfico de drogas na Comunidade da Rocinha".
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Em certo trecho da sentença, a magistrada ressalta: "conforme depoimentos colhidos na fase de inquérito policial, devidamente corroboradas em juízo, o acusado, ainda que preso em unidade prisional federal, mantinha o controle do tráfico de drogas na referida comunidade". E segue: "contudo, após divergências com seu então homem de confiança, Rogério Avelino da Silva (Rogério 157), o qual exercia liderança desde a prisão de Antônio Francisco Bonfim Lopes, no ano de 2011, o comando do tráfico de drogas na Rocinha foi tomado por aquele, ocasionando insatisfação por parte deste último".
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Quanto a Rogério 157, a juíza analisa que o traficante "exercia função de destaque no grupo criminoso destinado à exploração do tráfico de drogas na comunidade da Rocinha, uma vez que, até a ocorrência de desavenças com o acusado Antônio Francisco Bonfim Lopes, era o homem de confiança deste naquela localidade".
Já sobre Celsinho da Vila Vintém, Mello fundamenta sua decisão explicando que ele fornecera armamentos e logística para a invasão comandada por Nem.
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Ao aplicar as penas, a magistrada dá ênfase ao terror que a região sofreu na época da invasão: " As consequências do delito foram especialmente gravosas, uma vez que a tentativa de retomada da comunidade da Rocinha deu ensejo a confronto de magnitude jamais vista na cidade do Rio de Janeiro, cuja violência se assemelhou a uma verdadeira guerra, aterrorizando os moradores de todo o estado, em especial os inúmeros moradores daquela comunidade, sendo amplamente noticiada pelos meios de comunicação e ainda obrigando os cidadãos de bem a alterarem suas rotinas, em virtude do pânico instaurado naquele período".
Ela conclui: "Ademais a repercussão de tais atos criminosos manchou a imagem do Rio de Janeiro internacionalmente, gerando impactos em eventos turísticos e institucionais".