Governo do Amazonas confirma primeiro caso de Covid-19 entre indígenas no Brasil

Mulher da etnia Kokama, de19 anos, está isolada com a família na Aldeia São José, em Santo Antônio do Içá; município já tem quatro casos confirmados

Equipe médica em Santo Antônio do Içá para monitorar indígenas após confirmação de casos de covid-19
Foto: Secretaria de Saúde de Santo Antônio do Içá
Equipe médica em Santo Antônio do Içá para monitorar indígenas após confirmação de casos de covid-19


A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) confirmou nesta quarta-feira o primeiro caso do novo coronavírus entre indígenas no país. A paciente é uma mulher da etnia Kokama, de 19 anos, moradora da aldeia São José, em Santo Antônio do Içá , a cerca de 250 quilômetros da fronteira com a Colômbia. A informação foi revelada pelo GLOBO na noite desta terça-feira.

Até então a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não tinha confirmado nenhum registro de casos entre povos indígenas brasileiros.

No total, o município de Santo Antônio do Içá já soma quatro casos positivos para a Covid-19 , entre eles um médico que acredita ter contraído o vírus durante viagens aos estados de Santa Catarina e Paraná . Ele também não descarta a possibilidade de ter sido infectado em Santo Antônio do Içá, que fica a 880 quilômetros de Manaus, no sudoeste do estado. Os outros dois casos confirmados também são de homens, um de 38 e outro de 45 anos. A cidade, que tem cerca de 25 mil habitantes, possui ainda outros 54 casos suspeitos aguardando resultando e outros 50 já foram descartados.

A indígena que teve seu caso confirmado viajou a outros municípios do Alto Solimões, como Tabatinga, de acordo com o secretário de saúde do município, Francisco Ferreira Azevedo. Ela trabalha como agente de saúde e atende em aldeias na região e retornou de viagem com febre, dores na cabeça e garganta e aperto no peito. Pai, mãe, marido e filha da jovem estão sendo monitorados pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) como suspeitos.

"Todos que tiveram contato direta ou indiretamente serão isolados" afirma a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Santo Antônio do Içá, Andressa Jean.

Monitoramento

No sábado, O GLOBO publicou que ao menos dois indígenas da etnia Tikuna foram identificados com sintomas do novo coronavírus no município de Santo Antônio do Içá e testaram positivo para a Covid-19 . Mas as novas coletas que vieram do Laboratório Central de Manaus, no entanto, deram negativas.

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Assim que foi confirmada a contaminação do médico, agentes de saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Alto Solimões, vinculado à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), voaram de helicóptero de Tabatinga à aldeia Lago Grande, em Santo Antônio do Içá, para monitorar 13 tikunas, dos quais 10 foram atendidos pelo médico e outros três trabalharam com ele nos últimos dias.

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A aldeia São José possui 1.658 moradores. A população Kokama, que faz parte da família dos Tupi-Guarani, habita a região do Solimões e é distribuída entre os municípios de Tabatinga, São Paulo de Olivença, Benjamim Constant, Amaturá, Santo Antonio do Içá, Tonantins, Fonte Boa, Tefé e Jutaí. Também há registros dos Kokama no Peru e na Colômbia.

Agentes de saúde infectados

Nesta terça-feira, o Amazonas registrou duas mortes em decorrência do novo coronavírus, a terceira em todo o estado. A informação foi confirmada pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM). Na primeira delas, O GLOBO apurou que se trata do músico Robson de Souza Lopes, conhecido como ‘Binho’.

Ele tinha 43 anos e estava internado no Hospital e Pronto-Socorro (HPS) Delphina Aziz, na zona norte da capital. Ele faleceu por volta das 22h desta segunda-feira.

A outra vítima é também um homem, com histórico de diabetes. Ele morreu a caminho do hospital. Na semana passada, um empresário de 49 anos, morador de Parintins, no interior do estado, foi transferido para Manaus, mas não resistiu.

De acordo com a FVS-AM, o número de casos confirmados do novo coronavírus no Amazonas subiu para 175, dos quais 12 estão em estado grave. Dos infectados, 24 são profissionais da área da saúde.