Prefeitura do Rio não sabe onde moram 18% dos pacientes com Covid-19

Bairro de 96 vítimas aparece como 'indefinido' no painel de monitoramento. Falha aparece nas estatísticas que a prefeitura divulga diariamente no Painel Rio Covid-19

Além dos problemas com dados, hospitais sofrem com falta de equipamentos de proteção como máscaras.
Foto: Agência Brasil
Além dos problemas com dados, hospitais sofrem com falta de equipamentos de proteção como máscaras.

Como se não bastassem as subnotificações, a prefeitura do Rio não tem informações sobre onde moram 18,6% das vítimas do coronavírus. Na avaliação de especialistas, isso é uma falha grave pois pode comprometer o planejamento das ações de bloqueio para tentar conter a velocidade da expansão da  pandemia  da Covid-19. A falha nas notificações aparece nas estatísticas que a prefeitura divulga diariamente no Painel Rio Covid-19 .

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No último boletim, consolidado até as 8 horas deste domingo, apareciam 515 casos confirmados. Mas deste total, 96 (18,6%) apareciam sem informação sobre onde a pessoa mora.

Por se tratar de uma doença infectocontagiosa de notificação obrigatória, clínicas públicas e particulares devem prestar informações padronizadas às autoridades de Saúde sobre seus pacientes. Na avaliação dos especialistas, é neste ponto que ocorre a falha. Para se ter uma ideia, os 96 casos registrados até domingo sem informações superavam os 65 relatados na Barra da Tijuca que é o bairro com maior número de notificações.

Através das estatísticas , as autoridades de saúde tem adotado uma série de medidas. Na semana passada, por exemplo, com base na informação de que boa parte das ocorrências se davam na Barra da Tijuca e na Zona Sul, centrou suas ações na região, incluindo operações para desinfectar estações do Metrô e do BRT. O epidemiologista Edmilson Migowisky observa que a operação pode ter sido válida mas não produzir toda a eficácia esperada pela insuficiência de dados.

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"Nós estamos tratando de uma doença nova. Que toda a informação é fundamental. Não sabemos como esse coranovírus se comporta em um país tropical. Qualquer dado é estratégico. Se não sei onde estão todos os pacientes, como vou isolar quem teve contato com essas pessoas?", questiona.  "É um problema adicional", disse Migowiski.

O ex-secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, reforça as críticas: "Em uma epidemia, uma situação dessas é inadimissível. Revela erro de planejamento. Hoje, todo processo de notificação das clínicas públicas e particulares se dá de forma eletrônica. Tem que ser identificado de quem é a falha. Se da unidade de saúde ou dos laboratórios onde os exames são realizados", observou Daniel Soranz.

As omissões não se referem apenas aos dados sobre os endereços dos doentes. Em 48% das notificações não há informações sobre a faixa etária dos pacientes. Em 67,4% não há informações se as pessoas que contraíram a doença tem histórico de viagem ao exterior.

Integrante da Comissão de Saúde da Câmara do Rio, Paulo Pinheiro (PSOL) engrossa as críticas: "Não se trata de informações apenas burocráticas. Para combater uma epidemia é preciso planejamento. E isso se dá também com uma informação de qualidade que permita avaliar como a doença se comporta pela cidade. Até porque, o que observamos é apenas uma ponta da epidemia. Já que a estimativa é que haja pelo menos dez vezes mais casos que aqueles que foram notificados", disse Pinheiro.

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Em nota, a secretaria municipal de Saúde contesta as críticas, afirmando que as ausências de informações não comprometem as estratégias empregadas para conter a doença . E responsabiliza os laboratórios privados pela omissão da maior parte das informações. ''As medidas restritivas são válidas para toda a cidade, independente de idade e faxia etária'', diz um trecho da nota, acrescentando que as autoridades da vigilância em saúde estão reforçando a necessidade de informar todos os dados dos pacientes.