Cracolândia em São Paulo
Rovena Rosa/Agência Brasil
Cracolândia em São Paulo

Passava pouco das 8h desta quarta-feira (25) e a movimentação na maior cracolândia do Brasil, em São Paulo , parecia manter seu ritmo. Usuários se aglomeravam em rodinhas, jogados em calçadas próximas à Estação da Luz, para "queimar a pedra". Considerado público vulnerável para uma cartela de doenças, homens e mulheres usavam a droga nesta manhã também alheios à pandemia do coronavírus .

Não havia, pela manhã, qualquer tipo de atendimento. Aopenas um epqueno grupo de policiais faziam a ronda, como de costume.Cerca de 700 pessoas dediferenets idades frequentam a região dia e noite.

Para tentar frear a disseminação da doença que já atingiu mais de 400 mil pessoas no mundo, sendo 2,2 mil no Brasil, especialistas recomendam o distanciamento social e a higienização constante de mãos e objetos, entre outros hábitos. Na realidade da Cracolândia, no entanto, essas orientações são inócuas.

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Para fumar o crack, muitos usuários compartilham cachimbos entre si, sem qualquer cuidado. Não existem locais próximos para higienização, tampouco havia ações nesta quarta-feira para impedir definitivamente que as centenas de pessoas se aglomerassem. O tráfico de drogas é feito a céu aberto e até autoridades de saúde são impedidas de chegar ao "fluxo", onde a movimentação é mais intensa, para prover as orientações necessárias.

A psicóloga Maria Ângela Comis, coordenadora-geral do Centro de Convivência É de Lei, especializado em políticas de redução de danos e que atua na Cracolândia, afirma que é questão de tempo para o vírus se alastrar na entorno e que é grande a possibilidade de todos os usuários serem infectados.

"Eles compartilham garrafinha de Corote, de água. A gente distribui insumos de uso individual, mas mesmo assim eles compartilham. Tem muita gente sem dente, então há o contágio por perdigotos também. Vai ser contágio total. Isso sem falar de outras cenas de uso pela cidade. As pessoas ficam aglomeradas em barracas", afirma ela.

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Ela diz que a Secretaria Municipal de Saúde suspendeu todas as atividades de campo dos programas de redução de danos na Cracolândia, por conta do coronavírus. Segundo ela, sem os profissionais da saúde, os usuários não tiveram acesso adequado a informações de prevenção do Covid-19. O fato de muitos deles possuírem comorbidades como HIV, hepatite C, DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e problemas respiratórios agrava a situação.

"Como os voluntários estão de quarentena, a população não está recebendo ajuda e doações. Estão passando fome e sede, porque pegavam água de bares da região, que hoje estão fechados", declara.

Thiago Calil, psicólogo que trabalha no Fórum Mundaréu da Luz, organização que atua no bairro da Luz para melhoria na qualidade de vida da população, diz que o ideal seria avançar nas políticas de acesso a habitação digna para as pessoas. Algo que parece longe de acontecer.

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"As pessoas sentem falta de acesso e garantia de direitos historicamente, e assim acabam se adaptando a um modo de vida nas ruas. A aglomeração, por exemplo, que inclusive os protegem em outras situações de violência policial, acaba promovendo uma rede de solidariedade em que compartilham o estigma por parte da sociedade. Mas agora dificulta a prevenção em relação ao coronavírus", afirma Calil.

Para Maria Ângela, a prefeitura faz pouco pela Cracolândia e deveria se empenhar mais. diz ter informações de que o conoravírus já chegou à Cracolândia e agora teme que o estigam em relação à população piore ainda mais.

"Eles são vetores ambulantes, andam por toda a cidade. Se (o vírus) chegar neles, a gente vai ter muito mais mortes de pessoas em situação de rua. Vai ser trágico."

Procurada, a Prefeitura não respondeu sobre as medidas que pretende tomar para evitar maiores danos à população da Cracolândia em meio ao surto do coronavírus.

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