Bailarino de 10 anos salva material de dança enquanto água invade sua casa

Bernardo Régis competirá nos Estados Unidos no fim de março deste ano. Feito sob medida, calçado custou R$ 250 e foi pago em três prestações

Carla Cristina Batista Mendes mostra o tênis especial de seu filho, o bailarino
Foto: Fábio Motta / Agência O Globo
Carla Cristina Batista Mendes mostra o tênis especial de seu filho, o bailarino

Quando começou a chover forte e entrar água dentro de casa, na madrugada deste domingo, a primeira reação do menino Bernardo Régis , de 10 anos, foi salvar sapatilhas e material de dança, que estavam numa bolsa. O pequeno bailarino está com viagem marcada no próximo dia 26 com destino a St. Petersburg, na Flórida (EUA), onde participa de uma competição que pode abrir as portas do balé profissional para ele, daí a preocupação.

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Já principal iniciativa da avó do garoto Francisca Batista de Santana, de 67, foi tentar salvar um par de tênis sapatilha especialmente feito para moldar os pés, que custou R$ 250, pagos em três prestações, e foi presente do Dia das Crianças para o neto. Ela teve menos sorte. A família mora na Taquara, em Jacarepaguá, uma das regiões mais atingidas pela chuva.

"Espero que Deus toque alguém e essa pessoa doe as sapatilhas, porque para nós vai ser difícil (comprar)", apelou.

A mãe do garoto, a manicure Carla Cristina Batista Mendes, de 29, perdeu todo material que usava para fazer canetinhas decoradas para vender e ajudar na viagem do filho. Passagens, hospedagem e alimentação foram garantidos com os R$ 16 mil arrecadados numa vaquinha virtual. Mas ainda falta o figurino.

Carla contou que quando começou a chover, o Rio Grande, que passa nos fundos da casa transbordou e a água levou tudo. Ela tenta manter de pé o sonho só filho, que no ano passado participou de um curso de férias numa renomada academia de dança em Miami e custeou a viagem do mesmo jeito.

"Não posso deixar o rio entrar na minha casa e levar o sonho do meu filho", lamentou.

Do pequeno salão de manicure que fica na frente da casa e servia de sustento da família pouca coisa sobrou. Móveis e eletrodomésticos, cujas prestações ainda estão sendo pagas foram inutilizadas pela chuva. Por mês, ela paga R$ 538 pela cama, guarda-roupa e geladeira. Desta última ela só pagou seis das 24 parcelas. Dos outros móveis, faltam seis prestações de cada. Fotos da família e o certificado de participação só filho no curso de Miami foram inutilizados.

Família assistia TV quando água invadiu casa

Carla contou que assistia um filme na TV com o marido, Leandro Régis, de 36 anos, quando por volta das 3h, a água começou a entrar na casa, atingindo mais de um metro de altura. Na manhã desta segunda-feira, dia 2, vizinhos que moram na mesma rua, a Tenente Sidnei Gonçalves, contabilizavam os prejuízos. Na casa do aposentado José Djalmir, de 70, ele só conseguiu salvar o fogão, o colocando em cima de um banco alto. Os cômodos estão praticamente vazios. Quase tudo foi parar no lixo, depois da limpeza.

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Moram com ele mais quatro pessoas: a filha o genro e os netos, de 10 e 12 anos, que foram para a cada de parentes na Boiúna, também em Jacarepaguá. As crianças perderam uniforme material escolar.

"Agora vamos ver se a gente consegue com doações pelo menos uma cama para dormir", afirmou o idoso, que passou a noite de domingo num sofá na casa do filho, Leonardo, de 43 anos.

O filho do aposentado não teve a casa invadida pela água, por ficar no segundo pavimento. Mas, nem por isso dá para dizer que escapou ileso. Na hora da chuva quando tentava ajudar os parentes caiu da escada, fraturou a costela e está internado no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca.

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A atendente de farmácia Verônica Curvelo, de 41 anos estava desempregada há até pouco mais de um mês. A moradora da Taquara que vive com o filho Gaby, de 20 anos, que está no quartel, achou que a vida ia começar a entrar nos eixos quando veio a chuva e levou tudo que eles tinham.

A água atingiu quase um metro dentro de casa e ela perdeu quase todos os móveis e eletrodomésticos. Verônica ainda tem esperança de salvar a geladeira, que comprou há menos de dois anos e ficou boiando na água. "Não sei ainda o que vou fazer. Ainda vou parar para pensar. Está difícil", diz.