Campanhas tentam conscientizar foliões no carnaval em temas além da festa
Governos estaduais e municipais estão lançando campanhas para tentar minimizar problemas durante a festa; assédio e saúde são principais temas
Governos estaduais e municipais de todo o Brasil têm aproveitado o período pré-carnaval para lançar campanhas de conscientização para o feriado. Assédio e saúde são alguns dos principais temas abordados pelas ações.
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Enquanto o governo federal, encabeçado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, se prepara para lançar uma campanha em defesa da abstinência sexual como maneira de prevenção de doenças e gravidez precoce, a Secretaria Municipal de Saúde de Maceió aproveita as prévias do carnaval para conscientizar sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
A prefeitura da capital alagoana vai se juntar com o Bloco do Prazer, tradicional do carnaval da cidade, para dar visibilidade ao tema, principalmente durante o desfile, no dia 14 de fevereiro. Além disso, camisetas do bloco serão distribuídas para quem doar latas de leite Nestogeno 1, usadas para alimentar crianças filhas de mães soropositivas, evitando assim a contaminação vertical.
Na Paraíba, a Rede Estadual de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência Doméstica e Sexual (Reamcav), junto com o governo do estado, lança esta semana a campanha “meu corpo não é sua folia”, contra a importunação sexual e pelo respeito à mulher. A ação tem também o apoio de uma série de hotéis e de blocos de rua.
Ainda neste tema, a prefeitura de Imperatriz, no Maranhão, também realiza campanhas para combater a violência contra a mulher no carnaval . Com o objetivo de informar sobre os serviços ofertados pela Secretaria da Mulher e pela Rede de Enfrentamento à violência doméstica, são distribuídos informativos em pontos estratégicos da cidade, como hotéis, comércio, farmácias, aeroporto e rodoviária. São realizadas ainda blitz educativas.
O assunto foi também o escolhido pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara de Salvador . A campanha “meu corpo não é sua fantasia” faz um trabalho de conscientização para evitar o assédio na folia baiana. Desde 2019 a ação conta com apoio de personalidades e se utiliza nas redes sociais das hashtags “#eicomigonão” e “#issoéassédio”.
A Prefeitura de Teresina lançou a campanha “Marcas da Alegria” também para combater a violência contra a mulher. A campanha foi idealizada pela Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres e consiste na distribuição de material educativo para a sensibilização dos cidadãos.
O período anterior ao carnaval também foi o momento escolhido pelo hemocentro da cidade de Caicó, no Rio Grande do Norte, para começar uma campanha de doação de sangue , com o objetivo de garantir os estoques durante o feriado. “Antes de cair na folia se vista de super-herói, salve quatro vidas”, diz o cartaz do hemocentro, em alusão ao fato de que cada bolsa de sangue pode ser usada por até quatro pacientes.
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As redes sociais como aliadas
Além das iniciativas institucionais, campanhas espontâneas ou criadas por grupos organizados também ganham espaço nas redes sociais . Recentemente, no Twitter, pessoas começaram a usar a #CarnavalSemGordofobia, por meio da qual compartilharam histórias de preconceito contra pessoas gordas em carnavais passados.
A hashtag e o perfil no Instagram, de mesmo nome, são ações pensadas pelas amigas Gabriella Morais, atriz e estudante de pedagogia, de 22 anos, e Luana Carvalho, modelo e ativista, de 20 anos. Em uma conversa, as duas, que passarão o feriado no Rio de Janeiro, compartilharam histórias de preconceito, agressões e inseguranças em relação a este período. “Vimos que existe uma demanda dentro da comunidade gorda referente a carnaval”, afirma Gabriella sobre a iniciativa de criar a campanha.
“A campanha vem pra desconstruir e alertar as pessoas de que o carnaval não é tão livre assim. Ainda que seja uma festa e uma época em que as pessoas têm mais liberdade, para pessoas gordas não funciona dessa maneira”, explica Luana. Gabriella informa que o objetivo da ação é atingir o maior número de pessoas possível. “Por isso criamos o perfil no Instagram, para além de uma conscientização sobre o que é gordofobia e como ela se desenvolve nos espaços, a campanha também tem o objetivo de reunir pessoas gordas para ocupar blocos no Rio de Janeiro”.
O perfil no Instagram criado pelas amigas atingiu mais de dois mil seguidores em menos de uma semana. Elas relatam que têm recebido uma recepção muito positiva.
Em uma iniciativa similar, Laís Ezawa, estudante de design de 23 anos, se baseou em sua própria vivência para questionar o uso de “fantasias” asiáticas. Ela fez ilustrações nas quais explica porque se vestir de japonês, gueixa ou chinês, por exemplo, é ofensivo para as pessoas destas etnias e publicou em seu perfil no Instagram.
Os desenhos de Laís logo viralizaram e foram repostados inúmeras vezes nos stories da rede social. Nos comentários do post original também há uma grande repercussão e discussão sobre o tema. “Preconceito com amarelos é algo ainda bem pouco falado no Brasil -- e gente, aqui teve muita imigração asiática! Por isso, eu acho que essa repercussão vai gerar bastante conversa, discussão e, espero, mudanças e mais reflexão sobre o assunto”, disse.
Iniciativas da sociedade civil
Além das redes sociais, grupos de cidadãos também se organizam para que o carnaval seja mais igualitário em iniciativas off-line . É o caso da cada vez mais famosa campanha “Não é Não”. Há quatro anos um coletivo de mulheres distribui tatuagens temporárias com os dizeres em blocos de rua, com o objetivo de promover o respeito às mulheres e o combate ao assédio sexual .
A ação vem crescendo e atualmente, além das tatuagens, as mulheres responsáveis pela iniciativa fazem palestras e rodas de conversa sobre o tema. Em 2017 a campanha acontecia no Rio de Janeiro, mas este ano, com a ajuda de financiamento coletivo, ela já chegou a 15 estados brasileiros.
Em São Paulo, a sociedade civil busca se organizar junto à prefeitura para combater a violência de gênero. Mulheres que representam 50 blocos de carnaval da cidade se uniram para enviar sugestões de medidas para este combate.
O grupo formado por mais de 70 mulheres busca criar ações de prevenção contra agressões. Entre as ideias, está a criação de um jingle e um guia informativos.