Rio: preso por morte de PM, motoboy trabalhou no dia do crime e tem comprovantes

Sargento foi baleado durante operação na zona portuária no último dia 22; família fala em "perseguição do Estado"

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Homem foi preso no início da semana

O sargento Rostan Honorato, do Bope, foi baleado durante operação no Caju, na Região Portuária, por volta de 1h do último dia 22. Às 18h da noite anterior, o motoboy Matheus Chamarelli, de 24 anos, saiu de casa, no mesmo bairro, para fazer entregas.

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Dados do aplicativo usado pelo motoboy mostram que sua última entrega foi finalizada às 23h21, em Copacabana. Às 23h40, ele deixou o bairro para voltar para casa. Segundo parentes, ele chegou por volta de meia-noite e não saiu mais. Na última segunda-feira, Matheus foi preso pela Delegacia de Homicídios pela morte do PM.

"Meu filho é inocente, nós estamos sendo perseguidos pelo Estado. Eu quero a verdade", diz a mãe do jovem, Ana Aurora Fernandes.

Nesta quarta-feira (29), o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria Pública, que representa Matheus, entregou a agentes da DH a íntegra dos dados do aplicativo de entrega. Das 18h38 até as 23h21, Matheus percorreu cinco bairros das zonas Norte e Sul de moto e faturou R$ 110,63 antes de voltar ao Caju. A Defensoria solicitou que três parentes que estavam em casa quando o jovem chegou — a mãe de Matheus entre eles — sejam ouvidos pela DH.

As circunstâncias em que o motoboy foi reconhecido como o atirador são inusitadas. No dia seguinte ao crime, um PM do 4º BPM (São Cristóvão) foi até o local onde o jovem mora após receber uma denúncia de que havia um pitbull sem coleira e sem focinheira no local. O cão era de Matheus, que foi conduzido à 17ª DP (São Cristóvão). Acionado pelo batalhão local, um tenente do Bope que participou da ação foi à delegacia e reconheceu, por foto, o jovem como o atirador.

Parentes denunciam perseguição

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Comprovante de entregas mostra que acusado estava trabalhando na noite da morte do sargento

Com base no depoimento do tenente, a DH pediu à Justiça a prisão temporária do jovem. Na noite de domingo, a 4ª Vara Criminal decretou a prisão, e Matheus foi detido em casa na manhã do dia seguinte. A Defensoria Pública espera que, com as novas provas, a delegacia peça à Justiça o relaxamento da prisão.

Para parentes do motoboy, a prisão é fruto de uma perseguição de PMs atualmente lotados no 4º BPM que integravam a UPP do Caju antes de sua extinção. Matheus já foi detido várias vezes por PMs da unidade e acusado de diversos crimes. O jovem foi absolvido das acusações. Num dos processos, a juíza Ana Helena Mota Lima Valle, da 29ª Vara Criminal, ao arquivar o caso, alegou que havia indícios de que o PM que prendeu Matheus “vem utilizando a função pública de forma não compatível com a instituição, havendo indícios de flagrante forjado”.

Já em setembro do ano passado, o desembargador Luiz Noronha Dantas, ao absolver Matheus da acusação do roubo de um carro, alegou que um PM da UPP induziu a vítima a reconhecer o jovem: “O reconhecimento padece de incontornável mácula por força de maliciosa indução”, escreveu o magistrado.

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O sargento Rostan Honorato foi baleado na noite do último dia 22. Gravemente ferido, o agente foi socorrido ao Hospital Central da PM, onde morreu no último sábado (25).