Após morte de Paulo Paulino Guajajara, suspeitou-se que ele tivesse sido vítima de uma emboscada
Sarah Shenker/Survival International
Após morte de Paulo Paulino Guajajara, suspeitou-se que ele tivesse sido vítima de uma emboscada

A Defensoria Pública da União quer evitar que o processo sobre a morte de Paulo Paulino Guajajara vá para a justiça comum, após o inquérito da Polícia Federal descartar emboscada e crime étnico no assassinato do indígena. Segundo o defensor público Yuri Costa, o órgão vai atuar junto com o Ministério Público Federal e o Judiciário para tentar reverter a conclusão da investigação pela PF.

Leia mais: Óleo deixa manchas em banhistas nas praias do Nordeste

Paulino foi morto a tiros no início de novembro do ano passado, na Terra Indígena Araribóia, no Maranhão. Na mesma ocasião, o caçador Márcio Gleik Moreira Pereira também foi morto, e líder indígena Laércio Souza e Silva , ferido no braço. No inquérito, a Polícia Federal informou que o conflito foi motivado pelo furto de uma motocicleta que pertencia aos não-indígenas.

"A forma como o delegado concluiu o processo, desvinculando de interesses indígenas, faz com que ele vá para a Justiça comum e para uma apuração da Polícia Civil. Nós entendemos que ele deve continuar na Justiça Federal, que é quem tem competência para julgar esse caso, no qual é reconhecido o envolvimento de interesse indígenas. Se você leva para outra Justiça, o processo corre sem levar em consideração esse aspecto", explica Costa.

Na última segunda-feira (13), o Ministério Público devolveu o inquérito à PF, alegando que o relatório estava incompleto. Segundo Costa, algumas das provas usadas na investigação não foram juntadas no processo.

Indígena sobrevivente não foi indiciado por homicídio

Quatro pessoas foram indiciadas por crimes diferentes na conclusão da Polícia Federal. Segundo a PF, três são não-indígenas e entraram na área de reserva para caçar. O quarto é o líder indígena Laércio Souza e Silva, que foi ferido no caso. O inquérito informou que houve um troca de tiros motivada pelo furto de bicicleta. O defensor público Yuri rebate essa versão ao afirmar que Silva não foi indiciado por homicídio.

"Não houve o indiciamento do indígena sobrevivente pelo crime de homicídio. Ou seja, isso acontecendo, a polícia considerou que não foi ele que atingiu o não-indígena que foi morto", explica Costa, que completa: "O não-indígena foi morto por um deles mesmo".

Paulino era integrante de um grupo de agentes florestais indígenas autodenominados " guardiões da floresta ", do povo Tenetehara. Na época do crime, Laércio chegou a dar uma entrevista relatando que seu grupo foi atacados por cinco madeiros.

Leia também: Bolsonaro convoca reunião para discutir futuro do secretário de Comunicação

No ano passado, o Maranhão foi o epicentro da escalada de violência contra indígenas; o estado registrou quatros mortes de Guajajaras em menos de um mês e meio na região. Segundo Costa, a apuração sobre o assassinato de Paulino é importante para que esses outros casos também sejam solucionados.

"Quando a polícia reduz o conflito a algo menor, como o furto de uma moto, negando a ideia de que houve emboscada, a luta indígena fica enfraquecida. Além da morte violenta de uma liderança, o que está em jogo é na verdade você encobrir um histórico e um crescimento de conflitos envolvendo indígenas. A cada caso desse não resolvido ou distorcido, você acaba incentivando que essa violência continue".

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!