"Se ele portasse uma arma de fogo, teria me matado", diz juíza esfaqueada

Louise Filgueiras sofreu golpe de faca do promotor Matheus Assunção na sede do Tribunal Regional Federal da 3ª região, na Avenida Paulista

Foto: Divulgação / Ascom TRF-3
'Se ele portasse uma arma de fogo, teria me matado', disse a juíza Louise Filgueiras

Quando chegou ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, na quinta-feira da semana passada (3/10), a juíza Louise Filgueiras não imaginava que terminaria o dia nas
páginas policiais. Ela ocupava o gabinete do juiz Paulo Fontes, de quem cobria as férias, quando o procurador da Fazenda Matheus Carneiro Assunção invadiu o escritório e a
esfaqueou superficialmente no pescoço , numa tentativa de matá-la. Em estado de surto, ele foi preso em flagrante pela Polícia Federal e atualmente, encontra-se internado em ala
psiquiátrica do Hospital das Clínicas .

Recuperada do susto, Filgueiras comentou o ataque em entrevista ao GLOBO e especulou o que poderia ter ocorrido se o procurador não estivesse de posse de uma faca, mas de outro
arma mais letal. "Acredito que o golpe de faca não me feriu gravemente porque a cadeira giratória se moveu e não ofereceu resistência. Mas se ele portasse uma arma de fogo,
teria me matado. Eu não teria chance", diz a juíza .

Ela acredita que o esquema de segurança de prédios públicos, que permite a entrada de autoridades do Judiciário sem a necessidade de vistoria por equipamentos de raio-x,
contribuiu para o episódio.

"Acho que essa determinação deveria ser repensada. Existe uma cultura que informa essas normas internas de dispensa do detector de metais para autoridade, mas este fato mostra
que precisamos reavaliá-las e mudar isso", afirma.

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Filgueiras descarta a possibilidade de mover alguma ação pessoal contra Assunção e diz que o caso deve se manter apenas na esfera criminal. Não há indícios de que o procudador tenha atacado a juíza por algum motivo específico. Segundo testemunhas, ele perambulou por outros escritórios e possivelmente entrou no gabinete dela de forma aleatória.

"Eu não conhecia o procurador e pelo que pude apurar até agora, não julguei nenhum processo em que ele tenha atuado. Pelas circunstâncias dos fatos, foi um ataque aleatório,
direcionado a um magistrado qualquer. Ele me atingiu por que viu naquele lugar e momento uma situação favorável", opina.

Mesmo entendendo que o ataque foi fortuito e possivelmente fruto de um surto psicótico, Filgueiras enxerga o momento atual do país, com acirramento no debate político, como um
causador de atos de violência como este.

"Não dá para saber ao certo o que passou pela cabeça dele, mas estamos vivendo tempos difíceis, de muita intolerância e belicosidade . Isso acaba resultando em violência real. Há
um clima conflituoso, de ódios, ressentimentos e indignação, que afeta a todos e pode levar a extremos", acrescenta.

De volta ao trabalho, Louise diz que tem tirado forças do apoio recebido de pessoas próximas e até de desconhecidos.

"Me afastei para fazer exames na sexta, mas já retornei às funções. Me sinto bastante reconfortada por amigos e familiares e muito grata por todas as manifestações de
solidariedade que tenho recebido. Foram dias intensos, mas estou bem", finaliza a juíza .