Aluno da USP pede usucapião de armário para evitar uso por estudantes carentes

Estudante do curso de direito foi contra as políticas de redistribuição de armários para alunos humildes. Juíza do caso fala em "falta de civilidade"

Fachada da Universidade de São Paulo (USP)
Foto: USP Imagens
Fachada da Universidade de São Paulo (USP)

O estudante de direito Guilherme Sekiya deu entrada em um processo  considerado como "aventura jurídica" pela juíza Andrea de Abreu e Braga, da 10ª Vara Cível de São Paulo. Na ação, o estudante pediu o usucapião de dois armários localizados na Universidade de São Paulo ( USP ).

O processo foi aberto em reação às políticas de redistribuição de armários para alunos de baixa renda ou que moram distante da instituição. Sekiya é morador de um bairro vizinho da universidade e tem recebido críticas dos colegas.

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Os armários passaram a ser geridos de forma autônoma pelos estudantes nos primeiros semestres de 2009. O modelo de uso que entrou em vigor foi o da hereditariedade, em que estudantes veteranos faziam o repasse dos seus espaços após a conclusão dos estudos para os novos egressos da Universidade de São Paulo.

Por meio da justiça , Sekiya, de 24 anos, pretende manter que os armários sob a sua posse, alegando que utiliza os espaços desde meados de 2014 e que os recebeu como doação de seus veteranos. Para a juíza, a nova distribuição de posse dos armários tem por fim atender alunos mais humildes , o que demonstraria uma causa ‘perfeitamente abraçável’. 

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 A ação foi movida pelo aluno de direito em março deste ano contra o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP. No final do ano passado, o Centro foi assumido pelo terceiro mandato consecutivo por uma chapa composta por estudantes de esquerda, intitulada Enfrente.

Para o estudante de direito, a autogestão dos armários seria uma forma do centro acadêmico escapar de respostas judiciais em casos de furtos. Com base nisso, o Sekiya argumenta que a propriedade dos armários teria sido perdida pelo centro acadêmico, dando espaço ao instituto civil da ocupação. 

Outro argumento utilizado pelo estudante  seria que o centro acadêmico estaria realizando 'caridade' com o que pertence à terceiros. Ao mesmo tempo que afirma que, no futuro, não se oporia a fazer o repasse tradicional do armário.

Para a juíza Andrea de Abreu, sempre esteve claro que o uso dos armários é meramente temporário no ensino público e que não se pode admitir que alguém detenha posse devido à alegações de má administração.