Jovem preso há três anos em São Paulo deixa prisão após revisão do caso

Igor Ortega, 22, poderá acompanhar em casa restante da análise de revisão criminal. Defesa conseguiu mostrar que ele não estava onde ocorreu o crime

Beth (esquerda), mãe do jovem, comemora a liberdade do filho ao lado da advogada criminalista Dora Cavalcanti, da ONG Innocence Project Brasil
Foto: Reprodução
Beth (esquerda), mãe do jovem, comemora a liberdade do filho ao lado da advogada criminalista Dora Cavalcanti, da ONG Innocence Project Brasil

Acusado de latrocínio (roubo seguido de morte), o ajudante geral de supermercado Igor Barcelos Ortega, de 22 anos, conseguiu nesta terça-feira (30) liberdade provisória, após quase três anos preso. Desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo pediram diligências complementares, mas decidiram pela concessão de liberdade. Até o julgamento final, o jovem poderá acompanhar em casa o restante da análise de revisão criminal por parte da Justiça.

A ONG Innocence Project Brasil, que atua em casos de presos condenados injustamente, comemorou a vitória e a soltura do jovem , a terceira em três anos de atuação da organização no país. Ontem, a ONG conseguiu a reversão da prisão do borracheiro Antônio Claudio Barbosa de Castro , de 35 anos, detido e condenado a nove anos de prisão por uma série de estupros em Fortaleza.

Ortega foi detido em outubro de 2016 e condenado a 15 anos e seis meses de prisão depois que foi apontado como responsável por roubo e tentativa de homicídio em Guarulhos , na Grande São Paulo. O 2º Grupo de Câmaras de Direito Criminal do TJ de São Paulo pediu novos exames periciais de DNA e de identificação balística. Enquanto isso, o jovem deve deixar a prisão nesta tarde.

Segundo a advogada criminalista Dora Cavalcanti, que trabalhou por mais de um ano na análise do caso, a defesa conseguiu mostrar que Ortega não estava no local onde ocorreram os crimes. A revisão do caso levou à soltura, uma medida "raríssima", segundo a advogada, integrante da Innocence Project Brasil.

"(O resultado) coincide com o propósito da ONG, que busca provar de forma cabal a inocência. Estamos muito contentes com a realização de provas complementares (pedidas pelos desembargadores) e exames de DNA, que vão confirmar mais uma vez a inocência do Igor Barcelos", afirmou.

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Ontem, a ONG Innocence Brasil também conseguiu sentença favorável para o borracheiro Antônio Claudio Barbosa de Castro. Ele estava preso há cinco anos, depois de uma condenação em 2014 por uma série de estupros em Fortaleza. A ONG e a Defensoria Pública do Ceará entraram com o pedido de revisão criminal.

A primeira vitória da ONG no país foi em março de 2018. Atercino Ferreira de Lima Filho, condenado por estupro dos filhos e sentenciado a 27 anos de prisão, foi inocentado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por unanimidade.

"Nosso objetivo não é questionar a atuação da polícia, Ministério Público, juízes e demais envolvidos nos processos judiciais que levam à condenação de um inocente. Em geral, o erro acontece por uma série de fatores e não existe um só culpado. Queremos contribuir para melhorar a Justiça criminal do país e evitar novos erros como esse", diz a advogada criminalista Flávia Rahal, uma das fundadoras da ONG no Brasil e que trabalhou por quase um ano no caso de Castro, revisado nesta segunda-feira.

A ONG já recebeu mais de 800 pedidos de ajuda no Brasil. O primeiro critério para aceitação é que sejam casos que já passaram pelo trânsito em julgado. Depois disso, uma equipe da ONG faz uma análise detalhada, que inclui a busca por provas que possam indicar a inocência do condenado em questão e a ocorrência de erro judicial.

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A ONG Innocence Project Brasil segue o modelo da organização de mesmo nome nos Estados Unidos que, desde sua criação, em 1992, provou a inocência de mais de 350 pessoas com base em exame de DNA Conhecida como Innocence Network, a rede tem hoje mais de 56 projetos nos EUA e 13 ao redor do mundo.